Estômago 2: O Poderoso Chef

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"Estômago 2: O Poderoso Chef": Uma sequência que deixa a desejar

Quem é fã, provavelmente criou uma grande expectativa por essa estreia. E, obviamente, ela não deixa a desejar; é puro deslumbre e, assim como em boa parte do filme, de dar água na boca. Impossível não sair da sala de cinema com vontade de uma refeição apetitosa e magistralmente preparada. Aliás, é maestral esse início, seja na parte Brasil, seja no que é rodado na Itália. Câmara Cascudo ficaria orgulhoso da maneira como a importância dos rituais à mesa é retratada. Mas isso fica apenas no que seria esse primeiro ato; a partir daí, a história não se amarra. Aparenta ser um grande “não sei”, que, assim como pratos muito bem elaborados de uma cozinha slow food, essa continuação parece precisar ser cozida um pouco mais. Estava tudo ali: um bom elenco, uma boa história, mas faltou paciência para produzir um pouco mais e fazer tudo realmente se incorporar.

Mas como, então, um prato feito com bons ingredientes, com boas ferramentas e uma grande equipe por trás consegue deixar a desejar? Pode ser por várias considerações. Há pratos que, mesmo preparados da mesma maneira, é impossível repetir a experiência, por conta das circunstâncias serem outras no momento; afinal, a novidade e a surpresa sempre falam mais alto, e esse foi um dos grandes diferenciais em Estômago, quando somos apresentados ao protagonista e sua história, e ficamos vidrados com Raimundo Nonato, o Alecrim (João Miguel).

Assim como não dá pra pensar em Cinema, Aspirinas e Urubus, outro clássico na carreira de João Miguel, Estômago não pode ser cogitado sem ele como condutor da obra, usando das habilidades culinárias para reger como marionetes vilões e anti-heróis. E isso foi magistral na primeira produção. Mas aqui não aconteceu. Uma pena, ficou só na suposição onde Etcétera (Paulo Miklos) e Nicola Siri (Dom Caroglio) acabam tendo como estopim na disputa por espaço no comando da penitenciária a real disputa ser por Alecrim.

Foi isso, talvez, um excesso de Itália, detalhando muita coisa e, obviamente, retratando aquela conhecida máfia, de produções americanas dos anos 1970 e 1980. Não à toa o subtítulo é O Poderoso Chef, mas aqui talvez o excesso de “pasta” e “pomodoro” rendeu muita “água no feijão”. Elenco caricato demais e muita explicação, que acabou tomando muito tempo de tela, e um romance meio aqui, meio ali, esse sim pouco explicado. É até suposto, através das mídias e trailers, que o filme tenha dois protagonistas, mas claramente Alecrim acaba virando Rosmarino.

É como comer pizza fria, só se come no dia seguinte porque sobrou. Se no primeiro filme é possível ver o simples ir se tornando sofisticado, aqui na segunda produção temos um prato com ingredientes caros e servido frio. A história central é boa. Mas que filme é esse que some com o protagonista e o transforma em coadjuvante de luxo? É visível o esforço de João Miguel em ter que esconder o personagem que carrega.

E qual seria o hype para Estômago 2: O Poderoso Chef? Outra situação: mesmo os melhores ingredientes, cortados com as melhores facas e servidos nas melhores louças, podem dar problema na execução e no preparo. E foi isso que aparentemente aconteceu com Estômago 2. O filme é realmente bom, mas o seu problema é ser uma sequência; se ele não tivesse esse nome, provavelmente funcionaria melhor.

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