Homo Sapiens, o novo documentário do diretor Nikolaus Geyrhalter, embora tenha esse nome, não possui nenhum ser humano dentro dele. O filme mostra uma série de estruturas artificiais que foram deixadas a apodrecer aós desastres naturais, ou por negligência humana ou pela própria ação do tempo.
O conjunto de planos fixos formado por Homo Sapiens são basicamente uma peça de museu como uma obra de arte impressionante, convidando os espectadores a sentar e deixar as imagens consumi-los. Longe de ser comercial, o filme é um estudo moderno convincente do homem vs natureza, com planos simétricos e belos em sua composição.
Filmado em lugares que variam de Fukushima até a Bulgária, com passagens pelos EUA, América do Sul e partes da Europa, Geyrhalter – que filmou todo o material ele mesmo – apresenta-nos um conjunto de casas, escritórios, shopping centers, hospitais, escolas, igrejas, cinemas e instalações militares, em vários estados de decadência. Onde estão localizados e porque eles foram abandonados nunca é explicado, e o cineasta nem tenta amenizar nosso desconforto com cenas de reconstrução. Na melhor das hipóteses, a única vida presente nos planos do filme é proveniente de pássaros ou sapos desfrutando de seus novos habitats.
Peter Kutin é responsável pelo design de som e evita qualquer música ou narração explicativa, construindo uma sonoridade densa baseada no vento que sopra, goteiras e outros lembretes de que a natureza não pode ser desligada apesar de não a tratarmos tão bem quanto ela merece.
As imagens podem ser ao mesmo tempo excitantes e desconcertantes – como uma cidade devastada à beira-mar que parece aquele conjunto de prédios de A Origem, de Christopher Nolan, ou um outro naufrágio no deserto que lembra Planeta dos Macacos – mas sempre há uma espécie de consolo no fato que, naturalmente, o mundo vai continuar a viver depois de nós. És pó, e em pó te tornarás.