A franquia Jogos Vorazes nos cinemas surgiu para preencher o buraco deixado pela Saga Crepúsculo, tanto na vida dos fãs quanto nos cofres da Summit/Lionsgate. E a série conseguiu, mas ao longo do caminho distanciou-se bastante da franquia vampiresca de Stephenie Meyer.
Comparativamente, apenas a fórmula de um triângulo amoroso se manteve em ambas as franquias. E em Jogos Vorazes, pelo menos até o seu desfecho, este triângulo era apenas o pano de fundo da trama, que foi se aprofundando em temas políticos, numa mistura de barbaridades romanas com um mundo pós-apocalíptico de opressões e rebeliões.
A coragem com os temas explorados ao longo da série se esvai neste último capítulo. Embora ainda haja um contexto de desigualdade social, manipulação da mídia, autoritarismo e revoluções, temas que passaram a fazer parte do vocabulário das adolescentes aficionadas pela série graças a ela. Diferente de Crepúsculo cuja única abordagem era o romance “água com açúcar”.
É inegável o crescimento de Katniss (Jennifer Lawrence) como uma protagonista contraditória. Ela é teimosa e com um senso de proteção elevado, mas ao mesmo tempo desinteressada por questões alheias à sobrevivência dos seus familiares e amigos. Porém, mesmo sem desejar, ela se torna uma peça de manipulação no tabuleiro da rebelião instaurada contra o temido Presidente Snow (Donald Sutherland).
A primeira parte de A Esperança já abordava essa questão de Katniss ser usada relutantemente na propaganda de guerra. E se a primeira parte era justamente isso, então sua conclusão devia mostrar para que veio: a guerra deveria ser o foco das atenções. Não é o caso! Na verdade, a divisão da conclusão da saga acaba por gerar repetições. E a relutância da personagem em assumir seu papel no jogo político da trama soa forçada e repetitiva no derradeiro capítulo.
Em meio à guerra (que não tem as proporções imaginadas por quem é fã dos livros) o filme empaca ao voltar à abordagem do triângulo amoroso de Katniss, Peeta (Josh Hutcherson) e Gale (Liam Hemsworth). E a forma como Francis Lawrence (diretor da série desde o segundo filme) retrata o desinteresse da personagem na sua própria vida amorosa só colabora para mal aproveitar os personagens masculinos da trama.
Apesar de fiel ao livro, a saga termina desmerecendo o sofrimento da sua personagem em uma montagem feliz como só Hollywood sabe fazer no final. O último capítulo desmerece a franquia, em parte, mas ao mesmo tempo deixa sua marca na cultura pop atual. O triste é ver a série, que se distanciou tanto de Crepúsculo, quase terminar como ele.