Se você pensa em sofisticação quando pensa nos vencedores de Melhor Filme do Oscar, essa característica ainda não estava em vigor quando Melodia da Broadway venceu como melhor filme.
Selecionado principalmente por trazer para as telas os populares espetáculos teatrais da Broadway, o primeiro musical da MGM (primeiro de muitos) se beneficiou por ser o primeiro e, como tal, apresenta algumas falhas – que deveriam ter sido notadas na época de seu lançamento, 1929 – mas foram ignoradas pela Academia.
Melodia da Broadway não resiste ao teste do tempo se comparado com seus contemporâneos. Suas deficiências aparentes se devem às maneiras como o gênero foi sendo remodelado e melhorado ao longo dos anos. Mas algumas são o resultado da crença do estúdio em que os espectadores estariam dispostos a ignorar a má atuação e direção para experimentar um filme cantado, dançado e falado na tela grande.
O filme foi o primeiro filme falado a receber o Oscar (embora o termo Oscar ainda não fosse utilizado em 1930) e está entre os dez piores filmes premiados como Melhor Filme.
Da perspectiva da história do cinema, por outro lado, este é um filme importante. Não só foi o primeiro musical totalmente sonoro a chegar às telas, mas também foi um dos primeiros a misturar música com drama (a maioria dos primeiros musicais eram essencialmente shows de vaudeville filmados). Esta também foi a primeira produção a empregar música pré-gravada na trilha sonora. Se ao menos Melodia da Broadway fosse tão divertido quanto historicamente relevante…
No filme, as irmãs Queenie (Anita Page, de Enquanto a idade Dorme) e Hank (Bessie Love, de No Mundo da Lua) são duas atrizes-dançarinas que saem de uma cidade do interior dos Estados Unidos para buscar o sonho do sucesso em Nova York. O também ator Eddie Kerns (Charles King, de Hollywood Revue) conta com a presença das irmãs em sua nova peça na Broadway, que lhes dará uma projeção na cena local. Entretanto, Eddie, Queenie, Hank e Jock Warriner (Kenneth Thomson, de Defensores da Lei), um membro da alta sociedade nova-iorquina, acabam se envolvendo em um complexo quarteto amoroso.
Melodia da Broadway é atípico para um musical pois não apresenta muitos números durante o filme. Das canções, apenas a música que dá título ao filme é realmente envolvente – a maioria das outras são esquecíveis. A coreografia é bastante estática e pode-se ver que o único encantamento do público com o filme seria pela novidade de ver um musical falado.
Pode-se argumentar que é injusto julgar um sucesso de 1929 pelos padrões de hoje. Isso é verdade, especialmente no caso de um dos primeiros musicais falados da história do cinema, no qual as mentes criativas ainda estavam testando o terreno e sentindo o que deveria ser feito. No entanto, o fato de que muitas produções dos anos 1920 e 1930 permanecem clássicos amados e resistem a vários testes modernos, fala contra qualquer “injustiça” que possa resultar do “preconceito da era”.
Aqueles que viram e gostaram de Melodia da Broadway décadas atrás, sem toda a bagagem de hoje em dia, têm direito a suas memórias. Qualquer um que tente hoje vai achar que o filme é datado, com falhas de produção, repleto de números musicais pouco inspirados e performances exageradas.