No Calor da Noite

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"No Calor da Noite" é memorável pela força e a complexidade da relação de seus protagonistas

No Calor da Noite foi o primeiro filme a chamar atenção da Academia com seu claro exame das relações raciais durante a década de 1960 nos EUA. Baseado no romance de John Ball, o filme de Norman Jewison usa uma investigação de assassinato como pano de fundo para narrar a mudança no relacionamento entre Virgil Tibbs (Sidney Poitier), um detetive negro de homicídios da Filadélfia, e William Gillespie (Rod Steiger), um chefe de polícia branco do Mississippi.

Visto hoje, com os eventos que retrata, No Calor da Noite os mostra de forma mais áspera, do que alguns filmes posteriores que relembram a época. Tibbs e Gillespie não desenvolvem uma amizade. Os seus sentimentos evoluem da antipatia mútua a um respeito relutante – não mais que isso. Eles passam a considerar uns aos outros como seres humanos, o que chega a ser um triunfo, considerando a natureza profundamente enraizada da intolerância naquela época e lugar.

O filme começa com a descoberta de um corpo. O oficial Sam Wood (Warren Oates), fazendo suas rondas noturnas em Esparta, Mississippi, encontra o cadáver sem vida de um empresário, Philip Colbert, caído ao ar livre. A morte de Colbert é um grande negócio – ele veio para Esparta com a intenção de abrir uma fábrica que empregaria 1000 pessoas. Uma caçada humana imediata começa ao assassino. Isso resulta na apreensão de Tibbs, que é considerado “suspeito” (por causa da cor de sua pele). Quando Gillespie descobre que seu suspeito é um policial respeitado do Norte, ele é colocado em uma situação desconfortável – que se torna ainda mais estranha quando o chefe de Tibbs disponibiliza o “especialista” em homicídios para ajudar na investigação.

Os aspectos misteriosos de No Calor da Noite não são convincentes nem excitantes, para os padrões atuais. Se o filme fosse julgado apenas por seus méritos como thriller, seria classificado abaixo da média. Os pontos fortes dele emergem das diversas relações dos personagens e de como a participação de Tibbs na investigação (como um estranho e um homem negro) impacta os resultados. Gillespie, impelido pela conveniência e pela pressão política, prende dois homens inocentes (sem incluir Tibbs) antes que o verdadeiro culpado seja desmascarado.

Jewison entrou no projeto com um discurso anti-racista – uma visão de que poderíamos alcançar mais quando pessoas de diferentes cores cooperassem, do que quando cegas pelo preconceito. Lançado quatro anos depois do icônico discurso de Martin Luther King, No Calor da Noite ilustrou as possibilidades desta realidade imaginada. A mensagem foi bem recebida em Hollywood – o filme recebeu sete indicações ao Oscar (vencendo cinco delas, incluindo Melhor Filme) – e nas bilheterias, onde arrecadou 12 vezes o valor de seu orçamento.

Quando o filme estreou, Sidney Poitier estava no auge de sua popularidade. Ele já havia se tornado o primeiro ator negro a ganhar o prêmio de Melhor Ator. Em 1967, ele emplacou nas bilheterias com três grandes lançamentos: No Calor da Noite, Adivinhe Quem Vem para Jantar e Ao Mestre, Com Carinho. Embora Poitier não tenha sido indicado como Tibbs, seu colega de elenco, Rod Steiger, levou para casa a estatueta – foi o único Oscar da carreira dele, inclusive.

A popularidade de No Calor da Noite resultou no retorno de Poitier mais duas vezes como Virgil Tibbs – em Noite Sem Fim, de 1970, e A Organização, de 1971. Ambas eram histórias de crime, com os elementos raciais deixados em segundo plano e, com o personagem de Steiger não retornando, as sequências foram mal recebidas.

Hoje em dia, ninguém se lembra do crime que está no centro de No Calor da Noite, mas todos (pelo menos aqueles que viram o filme) recordam a força e a complexidade da relação de seus protagonistas. Embora desenvolvido como um drama/suspense contemporâneo, o filme foi transformado pela passagem do tempo em uma obra de época.

À medida que ainda lutamos com questões de raça e intolerância, os temas do filme permanecem relevantes e a honestidade com que Jewison e seu elenco os abordam dá ao filme mais poder do que a história do crime que ele tenta mostrar poderia sugerir.

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