No Ritmo do Coração

Onde assistir
"No Ritmo do Coração" garante que veremos o amor sem limites que existe, na linguagem compartilhada por seus personagens.

À primeira vista, você pode pensar que “No Ritmo do Coração”, de Sian Heder, é um daqueles filmes sobre músicas previsíveis que você já viu inúmeras vezes. Afinal, ele conta uma história de amadurecimento familiar, seguindo uma talentosa garota de uma família modesta com sonhos de estudar música na cidade grande. Há um professor idealista, uma paixão cativante, comoventes montagens de ensaio, uma grande audição e, naturalmente, uma família disfuncional relutante quanto às ambições de seus filhos. Mais uma vez – apenas à primeira vista – você pode pensar que já sabe tudo sobre para onde o filme está te levando.

Carinhoso, turbulento e enfeitado com o maior dos corações, “No Ritmo do Coração” provará que você está errado. Não é que Heder não adote as convenções mencionadas em todo o seu esplendor reconfortante – ela o faz. Mas, ao distorcer a fórmula e colocar essa história reconhecível dentro de um cenário novo, talvez até inovador, com uma especificidade tão amorosa, ela consegue nada menos que um milagre comovente com seu filme.

Interpretada pela excepcional Emilia Jones, a jovem talentosa em questão aqui é uma das grandes surpresas do filme. Navegando nas complexidades de sua identidade, paixões e expectativas familiares, tentando conciliá-los sem ferir os sentimentos de ninguém, ela própria incluída.

“No Ritmo do Coração” é uma adaptação do filme francês “A Família Bélier”, então a ideia não é totalmente nova. O que há de novo aqui – e isso faz toda a diferença – é seu elenco. Enquanto a família no original foi interpretada por ouvintes (com exceção do irmão trazido à vida pelo ator surdo Luca Gelberg), aqui todos eles são retratados por artistas surdos – um grupo sensacional que consiste na lendária Marlee Matlin, Troy Kotsur e Daniel Durant, que roubam a cena – infundindo sua versão da história com uma autenticidade ímpar.

Jones é Ruby, uma colegial trabalhadora, que costuma acordar de madrugada todos os dias para ajudar sua família em seu barco. Heder é rápida em nos levar para a rotina de Ruby. Acostumada a ser a intérprete de língua de sinais de sua família como único membro ouvinte dela, ela passa seus dias traduzindo todos os cenários imagináveis: em reuniões da cidade, no consultório médico e no barco onde uma pessoa ouvinte precisa estar presente para perceber os sinais e anúncios do rádio costeiro.

O que Ruby tem parece tão equilibrado e inspirador que leva um tempinho para reconhecer o quão exaustivo é para a jovem, mesmo que ela pareça ter um senso de responsabilidade além de sua idade. Para começar, ela está muito ciente sobre seus pais, muitas vezes incluindo suas condições médicas e (para seu terror), sua vida sexual. Quando o mundo ouvinte se torna cruel ou depreciativo, ela intervém, quase com instintos protetores, sempre priorizando-os. Mas quando Ruby se junta ao coral da escola e descobre seu talento para cantar, isso a desequilibra e a coloca em desacordo com sua família, especialmente quando ela decide se inscrever na Faculdade de Música de Boston, adotando um cronograma de ensaios que muitas vezes entra em conflito com suas tarefas. Para complicar ainda mais as coisas, há um interesse romântico, um garoto tímido com uma admiração genuína por Ruby.

Acima de tudo, Ruby nos faz ver e acreditar que os Rossi são uma família real com química real, com laços reais e provações únicas e universais como qualquer outra família.

O que o caminho escolhido por Ruby revela é a distinção dessas batalhas cotidianas. Será que seu talento sonoro vai separar Ruby do resto de sua família? Como será o mundo para o quarteto se Ruby decidir mesmo partir? Através de uma série de cenas bastante tocantes (e para este crítico, emocionantes), Heder dá as respostas abertamente. Com todas as sutilezas do filme, Heder garante que veremos o amor sem limites que existe, na linguagem compartilhada por seus personagens.

Você também pode gostar…