Augusto José Ramón Pinochet foi um influente ditador chileno de extrema direita que governou o país de 1973 até 1990 vindo a falecer em 2006, aos 91 anos.
Já nesse filme belamente filmado em preto e branco, o décimo dirigido pelo cineasta chileno Pablo Larraín, O Conde é uma sátira/terror de humor ácido que imagina um universo paralelo centralizando-se em Augusto Pinochet, interpretado por Jaime Vadell, que modificando os fatos históricos, ao invés de ter falecido em 2006, simula a própria morte para enganar o seu povo e então perdura como um isoladamente ilhado vampiro envelhecido de 250 anos com crises existenciais e que agora decide que deve morrer de uma vez por todas, mas logo muda de ideia ao encontrar um novo amor.
El Conde Pinochet é francês e antes de se tornar ditador, foi um cruel soldado das tropas do rei Luís XVI e que trai a monarquia com a chegada da Revolução Francesa, juntando-se aos republicanos para ter o deleite de apreciar as decapitações dos nobres todos os dias. Com o passar dos anos ele chega ao Chile onde passa a viver em uma ilha deserta com a esposa Lucia e o mordomo Fyodor. Anos depois, a igreja católica se opõe ao ditador e contrata uma freira que se disfarça de contadora para se aproximar do vampiro e exorcizar o demônio de seu corpo. Ainda tem a chegada dos seus cinco filhos mortais e gananciosos em busca de herança da fortuna acumulada pelo vampiro em todos esses anos de vida. Sem mais spoilers, ainda temos a presença de Margareth Tatcher no longa.
Apesar dos personagens falarem espanhol, o filme é todo narrado em inglês por uma misteriosa mulher de sotaque britânico e muitas vezes lembra um filme B dos anos 1930 devido a várias cenas bizarras onde o Conde até arranca a cabeça de prostitutas, fazendo deste um dos filmes mais esquisitos disponíveis hoje no catálogo da Netflix. As cenas do Conde voando pela cidade com sua capa são absurdamente fantásticas e os diálogos são longos e cheios de referências políticas que precisamos estar sintonizados para entender.
O filme o ganhou prêmio de melhor roteiro no festival de Veneza e algo curioso é o fato de o ditador vampiro não se importar com os inúmeros assassinatos cometidos em busca de sangue para alimento, mas sim em ser chamado de corrupto e ladrão pelo seu povo, principal motivo pelo qual o faz decidir dar um fim em sua suposta vida eterna.
O Conde não tem muito suspense e as cenas de terror são mais surreais que gore. A trilha sonora combina com o tom do filme e é épica com óperas e orquestras dramáticas, às vezes puxando um pouco para o humor.
Resumindo, este é mais um primoroso filme de Pablo Larraín com ótimas atuações e uma fotografia fantástica cuidando os mínimos detalhes em uma atmosfera gótica, deslumbrante e alternativa. A audiência poderá achar um pouco monótono, mas analisando criticamente não dá pra negar que é um filme arte muito bem dirigido e com muita personalidade. Resumindo, O Conde é muito bom, mas não para todos.