O Exterminador do Futuro: Gênesis marca o retorno de Arnold Schwarzenegger à franquia que o consagrou, depois de mais de uma década longe da série. Com ares de reboot e sequência ao mesmo tempo, o filme tenta reimaginar os eventos dos dois primeiros capítulos dirigidos por James Cameron, buscando o mesmo tipo de impacto, mas sob uma roupagem mais contemporânea — e barulhenta. É uma aposta arriscada: mexer com a linha do tempo já embaralhada da saga e, ao mesmo tempo, agradar fãs antigos com nostalgia e novos públicos com ação de sobra.
Ignorando os acontecimentos de O Exterminador do Futuro 3 e O Exterminador do Futuro: A Salvação, este novo capítulo se posiciona como uma continuação direta dos filmes de Cameron, especialmente O Exterminador do Futuro e O Exterminador do Futuro 2: O Julgamento Final. Essa escolha narrativa exige que o espectador tenha familiaridade com os filmes anteriores, já que boa parte do impacto emocional e dos easter eggs depende desse vínculo. Para quem cresceu com os filmes originais, há um charme imediato em revisitar locais e cenas clássicas, ainda que sob uma nova perspectiva.
A brincadeira com múltiplas linhas do tempo remete a De Volta para o Futuro 2 e até mesmo ao reboot de Star Trek feito por J.J. Abrams. O Exterminador do Futuro: Gênesis revisita os eventos de 1984 com modificações significativas, apresentando uma Sarah Connor já preparada para o caos desde a infância e protegida por um T-800 reprogramado. A narrativa avança por diferentes épocas, culminando em 2017, data redefinida para o Dia do Julgamento. A lógica temporal nem sempre é consistente, e o roteiro às vezes abraça uma abordagem mais fantasiosa, no estilo Doctor Who, do que verdadeiramente científica.
O filme aposta alto em cenas de ação, efeitos visuais impressionantes e combates entre versões jovens e envelhecidas do Exterminador. Um dos destaques visuais é o embate entre o T-800 atual e sua versão jovem rejuvenescida digitalmente — uma recriação surpreendentemente convincente do Schwarzenegger de 1984. Ainda que algumas lutas se alonguem mais do que o necessário, há um cuidado técnico evidente. A trilha sonora de Brad Fiedel reaparece pontualmente, reforçando a conexão emocional com os filmes originais, ainda que o 3D seja dispensável.
Schwarzenegger é, como sempre, o centro das atenções. Suas tiradas cômicas, oriundas das tentativas do T-800 de parecer mais humano, garantem os momentos mais leves do filme. Há várias frases com potencial para se tornarem memoráveis, ainda que nenhuma rivalize imediatamente com os clássicos “I’ll be back” ou “Hasta la vista, baby”. O carisma do ator segue intacto e sua presença compensa boa parte das eventuais falhas do roteiro.
O elenco de apoio é variado, ainda que nem todos brilhem com a mesma intensidade. Emilia Clarke entrega uma Sarah Connor convincente, mais próxima da guerreira que conhecemos em O Exterminador do Futuro 2. Jason Clarke como John Connor e Jai Courtney como Kyle Reese são funcionais, mas menos carismáticos. J.K. Simmons está subaproveitado, enquanto Matt Smith — ex-Doctor Who — faz uma participação breve, mas essencial. O filme ainda acerta ao atrair os fãs de Game of Thrones com a escalação de Clarke.
No fim, O Exterminador do Futuro: Gênesis é um esforço digno para revitalizar a franquia. Não vai conquistar quem nunca comprou a ideia de exterminadores e viagens no tempo, mas oferece um prato cheio para quem é fã de longa data. É uma carta de amor aos dois primeiros filmes, repleta de referências, reformulações e energia nostálgica. Se não revoluciona a saga, ao menos mostra que ela ainda tem combustível para seguir em frente — mesmo que a estrada esteja repleta de paradoxos.