O Fabuloso Doutor Dolittle

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O exagero encantado de "O Fabuloso Doutor Dolittle"

Lançado em 1967 como uma superprodução musical da 20th Century Fox, O Fabuloso Doutor Dolittle é um daqueles filmes que tentam encantar com grandiosidade, mas tropeçam no excesso de ambição e na falta de coesão. Baseado nos livros infantis de Hugh Lofting, o longa acompanha um médico britânico que, ao descobrir que pode conversar com animais em centenas de dialetos, parte em uma jornada pelos mares em busca de uma criatura mítica: a grande lesma rosa do mar.

O protagonista é vivido por Rex Harrison, ainda no auge da fama após Minha Bela Dama. Aqui, ele interpreta um Dolittle altivo, mais aristocrático do que excêntrico, o que entra em conflito com a proposta fantasiosa e infantil da trama. O filme exige entrega ao absurdo e ao lúdico, mas Harrison parece sempre deslocado, resistindo ao tom mais leve que o papel pede.

Visualmente, O Fabuloso Doutor Dolittle aposta alto em cenários exóticos, figurinos coloridos e uma miríade de animais falantes, reais ou fantásticos. No entanto, a beleza visual não compensa a narrativa arrastada, que parece se perder entre números musicais pouco inspirados e situações desconexas. Apesar da proposta aventureira, a jornada do doutor carece de ritmo e emoção.

O elenco de apoio conta com nomes como Samantha Eggar, Anthony Newley e Richard Attenborough, mas nenhum deles tem a chance de brilhar. Seus personagens são mal desenvolvidos, muitas vezes servindo apenas como suporte ou alívio cômico em um roteiro que tenta ser engraçado, mas raramente é. As canções, ainda que tecnicamente bem produzidas, não são memoráveis o suficiente para sustentar um musical de mais de duas horas.

Dirigido por Richard Fleischer, conhecido por trabalhos mais voltados ao suspense e à ação, o filme sofre com a falta de leveza e encantamento. A direção parece não saber lidar com a fantasia infantil, optando por uma condução rígida e sem o brilho necessário para envolver crianças ou adultos. O resultado é um filme que, mesmo com sua estética vibrante, soa morno.

Ainda assim, O Fabuloso Doutor Dolittle acabou indicado a nove Oscars, incluindo Melhor Filme — o que, à luz da recepção crítica e do impacto cultural do longa, soa mais como reflexo de uma campanha agressiva do estúdio do que de merecimento artístico. O tempo tratou de colocá-lo em perspectiva, e hoje é lembrado mais por essa indicação controversa do que por suas qualidades cinematográficas.

Apesar de suas boas intenções e da mensagem de harmonia entre humanos e animais, O Fabuloso Doutor Dolittle falha em entregar uma experiência verdadeiramente mágica. É mais uma curiosidade da era dos musicais grandiosos, cuja ambição supera em muito seu encanto real, provando que de boas intenções, o cinema esquecível está cheio.

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