Lento, com trilha sonora de arrepiar os fios de cabelo, atmosfera sombria, fotografia melancólica. Mas não se engane: “O rebanho” não vai te deixar desgrudar da tela por um segundo!
Quando comecei a ver o filme, sem muita pretensão, apesar de ver que o filme estava sendo chamado de “filme de terror”, logo percebi uma mistura de A Bruxa com A Vila, de M. Night Shyamalan. Mas logo percebi que nenhum desses filmes se aplicava.
Em O Rebanho acompanhamos uma espécie de seita feita só de mulheres sendo guiadas por um homem. Nela, existe uma subdivisão: as mulheres de azul, mais jovens (e ao que tudo indica, filhas do Pastor, como todas o chamam), que ainda serão esposas do cara, e as mulheres de vermelho, mais velhas, esposas dele. O filme não tem muito bem uma localização geográfica, nem tempo definido, mas de cara, apesar das roupas das mulheres, logo descobrimos que a história se passa em tempos atuais. O que deixa tudo ainda mais surreal. Como pode um grupo de mulheres se sujeitar aos ensinamentos de um babaca, que as oprime e trata como objeto? Bem-vinda à realidade, irmã! Existem muitas mulheres vivendo isso ao seu redor, infelizmente.
Felizmente o ponto de vista da história está com Selah (Raffey Cassidy, de O Sacrifício do Cervo Sagrado), que primeiro sente um misto de admiração e desejo pelo líder religioso, mas ao longo do filme, conforme ela vai entendendo o que está acontecendo ao seu redor, ela passa a sonhar com sua morte.
O filme é dirigido e escrito por duas mulheres, Małgorzata Szumowska e Catherine Smyth-McMullen. Entendo que não tem nada de novo nos temas que elas abordam, mas considero importante trazer para o cinema, sempre que possível, a misoginia, o ódio pelas mulheres, a violência, tudo disfarçado pelo amor de um pastor por suas ovelhas. E essa representação é tão forte no filme que o grupo tem um rebanho de ovelhas, com aparentemente apenas um carneiro – que inclusive aparece muitas vezes ao longo do filme sendo enfrentado por Selah, e acaba tendo um final curioso no último encontro da dupla.
Fiquei me perguntando, e sempre me pergunto, por que o filme foi classificado como terror. Mas conforme o filme caminha, e entendemos o que está realmente acontecendo – e que a religião não tem nada de romântico, e que a dominação conta com o medo e o controle psicológico das pessoas, você entende onde aquilo vai parar. E fica feliz que o filme é um terror, não um drama.
Vale a pena assistir, super recomendo.