O Último Imperador

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A influência cinematográfica e a conquista do Oscar: uma análise de "O Último Imperador" de Bernardo Bertolucci

As carreiras dos cineastas David Lean e Bernardo Bertolucci se sobrepuseram por um curto período (os melhores anos de Lean ocorreram antes da descoberta de Bertolucci), mas, quando o polêmico diretor italiano lançou seu célebre O Último Imperador, com aclamação internacional em 1987, a influência de Lean era palpável. Esse se deve, em parte, à participação de Peter O’Toole, cujo destaque da carreira foi Lawrence da Arábia, de Lean, e em parte graças à natureza lenta e grandiosa da produção, que ecoa Lean em seu aspecto menos comercial.

O Último Imperador é uma exceção na obra de Bertolucci por ter um foco mínimo no sexo. Para o diretor de O Último Tango em Paris, Beleza Roubada e Os Sonhadores, o longa é algo inofensivo. A nudez é limitada a alguns breves vislumbres de uma ama de leite amamentando e uma foto de Joan Chen em um vestido. A atividade sexual, na medida em que é mostrada, acontece debaixo de um lençol que provoca a imaginação, mas pouco mostra. Provavelmente a cena mais erótica envolve a remoção de uma meia e algumas chupadas no dedo do pé em um encontro assumidamente lésbico.

O filme narra a vida de Puyi, ou Pu Yi (interpretado como adulto por John Lone), o último imperador da China, usando uma estrutura de flashback onde o “presente” é 1950. Nesse período, Puyi é um prisioneiro político na prisão de Fushun. Ele tenta o suicídio, mas é salvo antes que possa sangrar até a morte. Ele é então forçado a escrever uma “confissão” que fornece os meios pelos quais o filme pode voltar no tempo para eventos importantes na vida de Puyi entre 1908 e 1940.

Na maior parte, O Último Imperador adota um tom solene. O filme transborda a tristeza que acompanha o fim de uma era e um profundo sentimento de solidão que envolve Puyi. Apesar das omissões históricas destinadas a “suavizar” o personagem, o imperador aparece como uma figura errática e fria. Não é difícil reconhecer como essa personalidade se formou. Cercado por eunucos, bajuladores e funcionários, ele é privado de conforto, amor e bondade. Bertolucci nos permite compreender Puyi sem necessariamente ter empatia por ele.

O Último Imperador é uma produção grandiosa, principalmente porque partes significativas foram filmadas em locações na Cidade Proibida. Bertolucci cultivou uma relação com o governo chinês que lhe deu acesso ao monumento e o filme se tornou uma das primeiras grandes produções a ser filmada lá. A fotografia infunde as cenas da Cidade Proibida com um mosaico de vermelhos e amarelos profundos enquanto dessatura as imagens da prisão dos anos 1950, a ponto de serem predominantemente pretos, brancos e cinzas. Apesar da autenticidade dos cenários, Bertolucci fez uma grande concessão ao apelo internacional (e especialmente americano): os diálogos são principalmente em inglês, embora as línguas oficiais dos personagens fossem o mandarim, o cantonês e o japonês.

O sucesso de O Último Imperador no Oscar – tendo levado nove de nove categorias nas quais foi indicado, incluindo Melhor Filme e Melhor Diretor – foi uma combinação de boa sorte e uma estratégia de marketing astuta da distribuidora. O lançamento do filme nos Estados Unidos foi adiado para ganhar impulso antes de sua indicação, mantendo-o assim em primeiro lugar na mente dos eleitores durante o início de 1988. O filme só teve seu lançamento completo na sexta-feira após a transmissão do Oscar. 

Na maior produção em competição da noite, O Último Imperador se beneficiou de uma concorrência fraca. A produção foi de longe a melhor na disputa – as outras opções foram Nos Bastidores da Notícia, Atração Fatal, Esperança e Glória e Feitiço da Lua. Além de cimentar sua reputação com a vitória no Oscar, o filme mostrou que Bertolucci poderia fazer mais do que apenas criar peças artísticas eróticas. Sua aventura no terreno de David Lean lhe rendeu seu único Oscar e se tornou o filme mais célebre de sua carreira.

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