Polaris

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"Polaris": Navegando pelas estrelas da vida e da feminilidade

O segundo longa metragem da jovem e admirável diretora Ainara Vera já conquistou destaque em Cannes, e agora deixa sua marca também no My French Film Festival.

A capitã Hayat é uma mulher que navega com destreza e determinação pelo Ártico. Enquanto veleja, ela compartilha seus anseios e desafios pessoais e de trabalho, sendo que sua vida ganha uma nova perspectiva quando sua irmã mais nova dá à luz a sua sobrinha Inaya. As duas irmãs passam a refletir sobre a infância, a vida em família e o que o futuro reserva para elas.

Já parou para pensar no quanto um relato sobre a vida cotidiana, que normalmente se disfarça muito bem de “comum”, pode oferecer? É algo tão sólido quanto a Estrela Polar que nomeia o filme, Polaris, a mais brilhante da constelação da Ursa Menor.

Primeiramente temos alguns quesitos técnicos que nos permitem apreciar de forma mais ampla a obra de Vera. Um deles, por exemplo, é a dualidade de cenas que equilibram conceitos, como o momento em que a protagonista, depois de já ter sido vista consertando o motor do próprio barco, toma um café do lado de fora de uma sala onde se vê uma aula de ballet acontecendo. Em poucos segundos, uma personalidade inteira é reforçada, e o tom do filme começa a se desenrolar. Além desse quesito, o ângulo amplo e muitas vezes fixo das cenas, e a narração que as acompanha em alguns momentos, também contribuem para a apreciação. Contudo, é a trama a grande responsável por incorporar o espectador a história que está sendo contada.

Mostrar uma mulher, em uma atividade de liderança, atividade esta pouco comum para o gênero, com um histórico familiar marcado pela falta das figuras paternas e frequência das figuras femininas, nunca será considerado ordinário justamente por causa do contexto escolhido para o filme: independentemente do lugar no mundo, seja em terra firme ou navegando pelo oceano, esta mulher estará sempre em comunhão com as outras, pois seus métodos, sua capacidade, as escolhas que ela faz ou deixa de fazer, sempre serão questionadas, mas o apoio de uma comunidade global, capaz de compreender e apoiar, está ao seu alcance.

O que à primeira vista parece apenas uma viagem por memórias de vida, revela ser algo que fala sem rodeios com qualquer pessoa, e assim como as estrelas que guiam navegantes há séculos, é constante e inabalável.

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