Sofia Coppola, conhecida por suas narrativas visualmente ricas e emocionais, entrega mais um filme marcante com Priscilla. Diferente de Maria Antonieta, desta vez, Coppola opta por uma abordagem autenticamente documental, revelando os bastidores do tumultuado relacionamento de Priscilla e Elvis Presley. A autenticidade meticulosa do docudrama cativa, proporcionando uma experiência cinematográfica imersiva.
O filme inicia-se em 1959, quando a jovem Priscilla, interpretada por Cailee Spaeny, conhece Elvis Presley, vivido por Jacob Elordi, em uma festa na Alemanha. O encanto inicial logo se transforma em uma jornada conturbada, destacando a vulnerabilidade de Priscilla ao ser atraída para o mundo de Elvis. A relação, marcada pela promessa de amor e afeição, toma um rumo sombrio à medida que o ícone do rock revela seu lado menos adorado.
Ao contrário de muitas cinebiografias que buscam criar arcos dramáticos, Coppola opta por contar a história como um diário, fluindo de forma objetiva e zen. A falta de dramaticidade forçada permite que o espectador se envolva na fascinação sobrenatural de ser escolhido pelo maior astro do planeta.
A protagonista, Cailee Spaeny, entrega uma interpretação cativante de Priscilla. Seu olhar ávido captura a essência da jovem americana da época, que vê seu mundo remodelado por Elvis Presley. A química entre Spaeny e Jacob Elordi, que personifica Elvis com uma postura descontraída, contribui para a autenticidade do relacionamento.
Priscilla se destaca ao explorar o controle obsessivo de Elvis sobre Priscilla, desde a escolha de suas roupas até a administração de medicamentos para controlar seu sono. A narrativa revela como a figura do ídolo do rock, incapaz de crescer, transforma Priscilla em uma mulher mantida, presa a Graceland, privada de autonomia.
O filme também aborda a infidelidade de Elvis, particularmente durante as filmagens de Viva Las Vegas em 1963. A traição expõe as falhas fundamentais do relacionamento, levando Priscilla a uma encruzilhada emocional. A decisão de permanecer ao lado de Elvis, mesmo diante dos desdobramentos, destaca a fé inabalável de Priscilla na união que ela própria ajudou a criar.
À medida que a narrativa se desenrola, a melancolia se instala, culminando na liberação final de Priscilla. Cailee Spaeny transmite de forma comovente a lenta desilusão de Priscilla, proporcionando ao público uma visão íntima de estar apaixonado por alguém que se revela um manipulador.
Priscilla é, acima de tudo, um drama honesto que explora o vórtice emocional no qual Priscilla se viu. A jornada do filme destaca as complexidades da relação entre uma jovem apaixonada e um ícone atormentado, revelando que o amor muitas vezes pode ser uma forma de vício, proporcionando conforto, mas também destruindo aqueles envolvidos.