“Rain Man” é um road movie excêntrico que quase se afoga em um tsunami de sentimentalismo e previsibilidade. Ele envelheceu mal, sua simpatia foi desaparecendo à medida que a passagem dos anos mostrava como tudo ali era normal, incluindo a alardeada atuação de Dustin Hoffman.
O filme narra a jornada emocional de dois irmãos incompatíveis enquanto atravessam os EUA (viajando de Cincinnati para Los Angeles) enquanto se conhecem no caminho. A “novidade” é que o homem mais velho, Raymond (Dustin Hoffman), é um autista incapaz de ter um relacionamento normal. Seu irmão mais novo, Charlie (Tom Cruise), é um comerciante de carros cujos motivos para “criar vínculo” com Raymond são apenas financeiros. Ele quer se tornar o tutor de Raymond para ter acesso à herança de US$ 3 milhões – dinheiro que Charlie sente que tem direito a metade.
Charlie é um empresário habilidoso, mas quando se trata de relacionamentos interpessoais, ele não é muito bom. Sua namorada, Susanna (Valeria Golino), pode atestar isso – ela se ressente de sua frieza e está visivelmente frustrada com o beco sem saída para o qual seu romance parece estar caminhando. Então Charlie recebe a notícia de que seu pai morreu. Embora estivessem afastados, Charlie comparece ao funeral e se encontra com o advogado, esperando uma grande herança. Em vez disso, ele descobre que tem um irmão mais velho, Raymond, que está em uma instituição porque é incapaz de viver em sociedade. O irmão recém-rico não tem noção do que significa ter dinheiro, então Charlie o sequestra com a intenção de usar Raymond como canal de acesso para a herança. Susanna, tendo perdido a paciência com Charlie, o abandona, deixando os irmãos se defenderem sozinhos. Charlie pretende voar de volta para Los Angeles com Raymond, mas surgem problemas quando Raymond se recusa a embarcar em um avião. Uma viagem de três horas torna-se uma excursão de três dias, com Charlie cada vez mais levado ao limite pelas necessidades específicas e horários de Raymond.
Embora “Rain Man” tenha sido apreciado quando foi lançado, no final da década de 1980, é um exemplo clássico de filme homenageado no Oscar pelo calor do momento, em vez de por imaginarem seu apelo e reputação a longo prazo. As suas opiniões “progressistas” sobre as pessoas com autismo são embaraçosas para os padrões atuais e a sua superficialidade geral faz com que nos perguntemos o que os membros da academia estavam pensando quando votaram para o prêmio máximo em 1989.
Uma questão em aberto é se o desempenho de Dustin Hoffman (vencedor do Oscar naquele ano) é uma interpretação boa e honesta de uma pessoa autista ou se é apenas uma caricatura. Esse debate nunca foi resolvido e, assistindo ao filme tantos anos depois, podemos ver os pontos aqui e ali. Hoffman estudou os maneirismos e usou essas observações para povoar sua representação. Mas o roteiro suaviza o personagem de uma forma que prejudica a honestidade que Hoffman estava tentando trazer a ele.
Pode-se argumentar que Tom Cruise, com sua atuação menos interessante, é um melhor ator no filme, embora o roteiro acelere sua transformação de forma que não se torna crível. Ele passa de um idiota a um defensor do seu irmão em apenas algumas cenas com muito pouca motivação. É um exemplo clássico de contar ao invés de mostrar.
Se alguém olhar a filmografia do diretor Barry Levinson, suporia que “Rain Man” foi o ponto alto de sua carreira. Afinal, ele ganhou seu único Oscar de Melhor Diretor por ele. Olhando para sua filmografia, depois de décadas, é uma de suas menores produções – ele fica atrás de diversos outros filmes de sua carreira (tanto para a crítica especializada quanto para o público).
É fácil dizer que “Rain Man” é um dos ganhadores menos merecedores do Oscar de Melhor Filme, em uma década repleta de exemplos como ele (“Gente Como a Gente”, “Entre Dois Amores” e “Laços de Ternura” são outros exemplos do gênero). O maior trunfo do filme – o fato de ter tido apelo com aqueles que assistiram os irmãos superarem barreiras para formar um vínculo profundo – parece falso no jeito como foi abordado. O único aspecto do relacionamento que sobrevive é a química entre Hoffman e Cruise. Ela continua a brilhar, embora a maior parte de “Rain Man” tenha esmorecido com o tempo.