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"#SalveRosa": A exploração infantil e a manipulação nas redes

O longa #SalveRosa explora a manipulação psicológica e o abuso emocional que Rosa (Klara Castanho) enfrenta desde a infância até a adolescência, tendo como responsável sua mãe, Dora, interpretada pela atriz Karine Teles. Trata-se de um verdadeiro thriller psicológico que mergulha nas polêmicas e nos perigos do universo das redes sociais.

A trama é um misto de suspense, drama psicológico, perversidade e tragédia. A história mostra que, durante a infância e a adolescência, Dora fez com que a filha, Rosa, acreditasse ser uma eterna criança, transformando-a em uma fonte inesgotável de acumulação financeira por meio das redes sociais. Dora faz de Rosa uma influenciadora mirim, uma celebridade entre o público infantil.

É importante evidenciar o entrosamento entre Klara Castanho e Karine Teles, com interpretações sensíveis e potentes, além do desempenho dos atores e atrizes coadjuvantes, que garantem a cadência e o ritmo do suspense que nos prende do início ao fim da exibição. Destacam-se as atuações de Zõe (Julia Helen), Beto (Ricardo Teodoro), Vera (Indira Nascimento) e Luana (Alana Cabral).

A diretora Susanna Lira, consagrada no gênero documentário, tem em sua filmografia obras que exploram desde a história recente do Brasil ditatorial — como Torre das Donzelas (2018) — e a série Jessie & Colombo (2023), passando por temáticas que evidenciam o protagonismo feminino na luta pela terra, como em A Mãe de Todas as Lutas (2020), até questões pessoais, como no delicado e sensível Nada Sobre Meu Pai (2023). Também realizou tributos a personalidades brasileiras, seja das artes, como Clara Estrela (2017) e Mussum, Um Filme do Cacildis (2018), seja do futebol, como na série Adriano Imperador (2022). Agora, parte para uma jornada inesperada e surpreendente.

Susanna faz sua estreia na ficção, e não poderia começar de melhor forma: com um suspense — gênero ainda pouco explorado na cinematografia brasileira. Prova de seu sucesso são os três prêmios conquistados recentemente no último Festival do Rio: figurino, melhor atriz (para Klara Castanho) e melhor filme, pelo voto popular. Em entrevista, a diretora afirma que a história de Rosa deve reverberar o máximo possível, como forma de a sociedade não naturalizar as práticas de exploração e objetificação dos corpos infantis.

A condução da direção é primorosa, pois nos remete a um contexto de aparente perfeição familiar: uma criança prodígio e sua mãe solo, devota e abnegada, que abre mão da própria vida em prol dos cuidados sistemáticos e incansáveis com a filha — vista como um frágil cristal que demanda atenção constante. Aqui reside um dos méritos da direção e do roteiro de Ângela Hirata Fabri: a construção de uma narrativa que transita entre o real e a alucinação.

O gênero ficcional exige precisão no ritmo e na construção detalhada do clímax e da tensão, de forma a capturar a atenção e o interesse do espectador. No filme, o suspense não é apenas um recurso narrativo, mas a própria essência da obra, demonstrando a todo momento as sensações de medo e angústia que atravessam as relações entre os personagens.

O filme problematiza que, para além dos likes e da publicidade, existe um sistema de exploração no qual os lucros se sobrepõem à preservação da dignidade e da inviolabilidade dos mais vulneráveis. Crianças são reduzidas a marcas, à aparência de uma felicidade forjada pelo controle de seus corpos. Não parece ser a intenção da diretora demonizar as redes sociais, mas alertar sobre seus limites e a necessidade de reconhecer e preservar crianças e adolescentes como sujeitos de direitos.

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