Sem Ar

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Em "Sem Ar" as protagonistas mergulham para conhecerem melhor a si mesmas

Um mergulho em uma praia paradisíaca, porém, remota, se torna uma luta pela vida para as irmãs Drew e May quando um deslizamento de terra faz com que rochas caiam no mar, prendendo May nas profundezas. À medida que o oxigênio se esgota, Drew deve lutar contra o tempo e tomar difíceis decisões.

Drew e May são irmãs já sem tanto contato uma com a outra, e para contornar isso, anualmente elas viajam juntas para praticar mergulho em profundidade, e claro, passar algum tempo tentando se reconectar.

Dessa vez a escolha é uma localidade paradisíaca, porém, bastante remota, e sendo exatamente no caminho desértico para a praia, que conhecemos as protagonistas, que interagem como uma música que apenas uma delas demonstra gostar.

Logo na chegada ao local as irmãs já se preparam para sua descida, pegando do carro todo o equipamento que irão utilizar para o mergulho, e assim literalmente descendo até a praia, já que o local de mergulho fica em meio a um grande paredão. Já na base podemos perceber a diferença entre a personalidade de May, que é extremamente preparada, para a sua irmã, que apenas planejou curtir o momento.

Durante o mergulho, as imagens são lindas, as personagens aproveitando cada momento, as rochas, a vida marinha, tudo um espetáculo visual, até mesmo a espécie de caverna que encontram é interessante de se ver. Momento que acontece outra interação importante para a análise das protagonistas, já que é perceptível que May carrega uma bagagem psicológica pesada, e sua irmã Drew apesar de não saber o que se passa, tenta romper essa barreira entre elas.

E logo após esse momento entre as duas, que o ponto crucial do filme acontece, o deslizamento de terra que prende May a cerca de trinta metros da superfície, e a luta de Drew para salvar a sua irmã começa.

É um terror de sobrevivência cooperativo, – eu sei, parece descrição de game, não é mesmo? – com um núcleo enxuto, em que duas irmãs passam pelo que deve ser o maior terror de um mergulhador, ficar preso em grande profundidade, lutando pela vida enquanto seu nível de oxigênio diminui a cada segundo.

Em “Sem Ar”, ou no original “The Dive”, as protagonistas não apenas mergulham para curtirem a experiência, mas, também para conhecerem melhor a si mesmas, se reconectarem uma com a outra, e descobrirem o quão fortes e resilientes são.
Temos claramente duas personalidades muito bem definidas, May que é mais madura, fechada, preparada e independente, e Drew que é mais aberta, despreocupada e despojada, portanto, ao longo da história, a todo momento uma completa a outra, ensinando e aprendendo, como a fluidez da própria água em que as duas passam a maior parte do filme.

Em obras assim podemos perceber melhor a utilização de figuras de linguagem para contar uma história com mais camadas e profundidade. Outro exemplo disso é o paredão rochoso, que desaba logo após a tentativa de Drew de “romper a barreira” entre ela e May, em sua tentativa de reaproximação.

Em Sem Ar o terror fica por conta da aflição constante, e da dúvida amarga de se as protagonistas irão conseguir se salvar. Além disso, o clima de claustrofobia, e a noção dos níveis de oxigênio sempre baixos ou acabando, nos envolve num constante estado de alerta.

Para quem, assim como eu, tem aversão ao fundo do mar, filmes como esse são quase que um prato cheio para alimentar noites sem dormir.

Mas, nem tudo no filme é positivo, entendo que ele peca na falta de backstory das protagonistas, e isso afeta diretamente na relação do espectador com elas, que devido a essa lacuna, – alimentada poucas vezes, no início através de alguns momentos de conversa entre as duas, e ao longo do filme em flashbacks causados pela narcose por nitrogênio (condição também chamada de “embriaguez das profundidades”, que é quando a pressão por nitrogênio aumenta consideravelmente e a pessoa começa a ter alucinações, e sintomas parecidos com intoxicação alcoólica) – a proximidade e envolvimento que poderia se ter, é bastante desperdiçada.

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