Sexa

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"Sexa": Amor em descompasso

Sexa chega às telonas como a estreia de Glória Pires na direção e no roteiro, trazendo a história de Bárbara, uma mulher que acaba de completar 60 anos e se vê diante do inesperado: um romance com um homem 25 anos mais jovem. A premissa promete questionar preconceitos sobre idade e amor, mas o filme se perde ao tentar equilibrar boas intenções com uma execução técnica questionável.

A protagonista, Bárbara, interpretada pela própria Pires, tem potencial para ser cativante. Seu encontro com Davi (Thiago Martins) sugere química imediata, e o casal poderia ser o coração de uma comédia romântica madura e envolvente. Infelizmente, o texto não consegue sustentar a promessa, e os diálogos por vezes soam artificiais ou previsíveis, sem o charme necessário para que a produção se torne memorável (ponto alto para autorreferência de Pires e sua tragicômica apresentação do Oscar 2016).

O roteiro tenta incorporar elementos clássicos de comédias românticas, com a melhor amiga excêntrica, familiares cheios de opinião e dilemas cotidianos que poderiam gerar momentos divertidos e emocionantes. No entanto, a execução falha em criar naturalidade: as situações e conflitos frequentemente se tornam caricaturas, e o espectador é pouco envolvido na narrativa.

Um dos problemas centrais de Sexa está na realização técnica. A direção de cena carece de precisão, com enquadramentos confusos que prejudicam a verossimilhança das interações, enquanto a ambientação e o som não ajudam a construir uma atmosfera convincente. Em algumas cenas, é difícil acreditar que os personagens compartilham o mesmo espaço físico, o que compromete a empatia com a trama.

Apesar disso, há momentos em que a história tenta brilhar. Thiago Martins se mostra carismático, e certos trechos de diálogo ou pequenos gestos trazem um pouco de calor à tela. É possível perceber a intenção de criar uma narrativa leve, brasileira e com traços de humor e romance, mas essas intenções não se sustentam ao longo do filme.

O maior problema de Sexa talvez seja a falta de firmeza na condução do material. A história parece saber aonde quer chegar, mas tropeça em sua própria execução, incapaz de transformar personagens interessantes em figuras realmente cativantes. A promessa de discutir envelhecimento, amor e liberdade feminina é constantemente ofuscada por escolhas técnicas e narrativas frágeis.

No fim, Sexa é um filme de boas ideias que não se concretizam. A química entre os protagonistas e o tema provocativo não bastam para compensar a inaptidão técnica e narrativa presentes na produção. Resta a sensação de que um romance maduro e potente estava ali, mas nunca chegou a se concretizar na telona.

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