Tudo em Todo o Lugar ao Mesmo Tempo

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"Tudo em Todo o Lugar ao Mesmo Tempo" é uma brincadeira com a vida de uma mulher que faz de “ser o pior de si mesma” um trunfo.

Hoje em dia, todo mundo quer fazer seu filme sobre multiverso – a Marvel, a DC e agora os diretores de “Um Cadáver para Sobreviver”. “Tudo em Todo o Lugar ao Mesmo Tempo” prova que isso pode ser feito sem um orçamento exorbitante. Isso porque, embora seja principalmente um filme de ação com pretensões fantásticas, o mais recente longa dos “Daniels” (o apelido do duo de diretores Daniel Kwan e Daniel Scheinert) é, no fundo, um filme sobre o vínculo entre mãe e filha com todo o ressentimento, rivalidade, e amor que isso possa implicar.

“Tudo em Todo o Lugar ao Mesmo Tempo” foi bastante elogiado por sua sagacidade e inventividade. Ambos estão presentes. Embora Kwan & Scheinert tenham algo sério a dizer, eles se divertem muito fazendo isso. Há alguns momentos de comédia, mas sem muita tensão – as histórias do multiverso, onde as apostas são altas, tendem a não ser muito cheias de suspense porque é impossível para a mente humana compreender as enormidades cósmicas dos desdobramentos da história, independentemente de como os cineastas tentam.

O filme mantém sua abordagem irônica até chegar a hora de explorar o núcleo emocional. Ao longo do caminho, vemos coisas pouco ortodoxas como um homem consumindo protetor labial, pedras filosofais, uma mulher usando um cachorro como arma, plugs anais como meio de aprimorar as capacidades de artes marciais e pessoas com salsichas no lugar dos dedos. Ah, e não se esqueça do guaxinim manipulador de marionetes.

A narrativa começa nos apresentando a disfuncional família Wang: a esposa Eveyln (Michelle Yeoh), uma chinesa tradicional; a filha Joy (Stephanie Hsu), uma lésbica que se cansou das constantes críticas de sua mãe; e o marido Waymond (Ke Huy Quan), um homem tímido que deseja o divórcio. Também na mistura está o pai de Eveyln, Gong Gon (James Hong), que mora com a família, mas cuja mente está tão confusa que não é o homem imponente que já foi.

Os Wangs administram uma lavanderia que está sendo auditada pela Receita Federal e as coisas começam a ficar estranhas quando eles fazem uma visita a auditora Dierdre Beaubeirdra (Jamie Lee Curtis). É quando Waymond começa a agir de forma estranha, fazendo pronunciamentos eloquentes e encorajando Eveyln a fazer coisas que não fazem sentido. Quando ela o faz, o inferno se instaura e ela logo descobre que o multiverso está sob a ameaça de uma entidade poderosa chamada Jobu Tupaki (ou Jobu Tabaco, rs), cujos poderes para controlar o caos estão minando incontáveis universos. Jobu Tupaki está caçando Evelyns em todos os lugares por um motivo que acaba se tornando aparente desde o princípio. Para salvar o multiverso, Eveyln deve abandonar a estrutura ordenada de sua vida mundana e se tornar a heroína cuja promessa é evidente nas outras Evelyns do multiverso.

Kwan e Scheinert não são cientistas, mas também não são os contadores de histórias que você esperaria se aventurarem pelas narrativas do multiverso. As sequências de artes marciais não são as melhores ou as mais inventivas que já vimos, mas estão entre as mais incomuns. Embora dublês tenham sido usados em algumas cenas, Yeoh continua a mostrar a postura e a elegância que lhe renderam seguidores leais durante os anos 80 (quando ela atendia pelo nome de “Michelle Khan”) e os anos 90 (quando ela protagonizou “O Tigre e o Dragão”). O incrivelmente prolífico James Hong tem uma de suas melhores aparições desde “Os Aventureiros do Bairro Proibido”. Já Jamie Lee Curtis está irreconhecível com ou sem os dedos de salsicha (maravilhosa!).

As histórias multiversais nunca são tão simples quanto parecem, principalmente porque os conceitos raramente são explorados ao extremo. Eles são dispositivos de enredo que permitem a criação de cenários como o Dia da Marmota. “Tudo em Todo o Lugar ao Mesmo Tempo” oferece uma abordagem despreocupada e um senso de humor distorcido, uma performance incrível de Michelle Yeoh e um tema central emocionalmente verdadeiro, todos os quais são suficientes para superar qualquer furo relacionado ao multiverso. É uma brincadeira agradável e satisfatória com a vida de uma mulher que faz de “ser o pior de si mesma” um trunfo.

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