12.12: O Dia, dirigido por Kim Sung-soo, leva o público para um dos momentos mais turbulentos da história recente da Coreia do Sul. Baseado no golpe militar de 1979, que selou o destino político do país após o assassinato do presidente Park Chung-hee, o filme é um drama histórico intenso e revelador. Mais do que um relato cronológico, a obra mergulha nos bastidores de uma noite que mudou o curso de uma nação, equilibrando precisão histórica com a tensão de um thriller político.
O enredo se concentra no confronto entre Chun Doo-gwang (Hwang Jung-min), líder do golpe e figura central da trama, e Lee Tae-shin (Jung Woo-sung), defensor da ordem institucional. Enquanto Chun manipula os militares com um carisma ameaçador, Lee luta para preservar o Estado de Direito, mesmo ciente de que está em desvantagem. A interpretação de Jung Woo-sung confere uma profundidade moral ao seu personagem, enquanto Hwang Jung-min domina a tela com uma performance magnética e assustadoramente convincente, criando um antagonista memorável.
O filme é eficiente em capturar o caos e as contradições de uma Coreia em transição. Enquanto Chun se movimenta nos bastidores, arquitetando seu plano com precisão militar, Lee representa o idealismo de um país que sonhava com democracia, mas se via sufocado por interesses autoritários. Esse conflito é amplificado pela montagem ágil e pela fotografia sombria, que reforçam a sensação de urgência e perigo iminente.
Um dos aspectos mais marcantes de 12.12: O Dia é a sua habilidade de conectar o espectador às complexidades políticas do período sem perder o ritmo da narrativa. As cenas que mostram batalhões sendo mobilizados em silêncio ou telefonemas decisivos carregam uma tensão palpável, como se cada ação estivesse à beira de uma explosão iminente. É um retrato poderoso de como decisões individuais podem moldar o destino de uma nação.
Embora a história seja ancorada em figuras centrais, o filme também destaca as “engrenagens” do sistema: oficiais, políticos e burocratas cujas ações oportunistas permitiram o golpe. Nesse sentido, a obra transcende a simples oposição entre heróis e vilões, explorando as zonas cinzentas da política e os dilemas éticos de quem estava envolvido. Essa abordagem multifacetada enriquece o filme, tornando-o mais do que um relato histórico – uma reflexão sobre o poder e suas consequências.
Hwang Jung-min, já conhecido por papéis intensos em filmes como O Veterano, atinge aqui um novo patamar. Sua interpretação de Chun, que combina charme manipulador e uma maldade crua, é ao mesmo tempo fascinante e perturbadora. O riso maníaco que ecoa em uma cena chave ficará gravado na memória dos espectadores, representando perfeitamente o horror silencioso do momento histórico retratado.
Com uma direção segura e uma narrativa que nunca perde o foco, 12.12: O Dia é mais do que um retrato de um golpe de estado. É uma dissecação brilhante de como o poder é tomado e mantido, e um lembrete sombrio de que, muitas vezes, os sonhos de liberdade precisam atravessar noites sombrias antes de encontrar a luz do dia.