Assim como La Vanité, o francês A Última Lição fala sobre a controversa questão da morte assistida. Pascale Pouzadoux, a diretora, é advinda das comédias, mas não espere nada cômico ou vagamente divertido na situação de Madeleine (Marthe Villalonga, de Retratos da Vida).
No filme, durante sua festa de aniversário de 92 anos, Madeleine choca seus filhos e netos ao anunciar que definiu o dia exato em que irá morrer, em cerca de dois meses. A sua intenção era de prepará-los lentamente para a sua partida, mas o efeito é contrário, gerando uma série de conflitos. Apenas sua filha Diane (Sandrine Bonnaire, de Mulheres Diabólicas) respeita a sua escolha e aceita a proposta da despedida parcelada.
A escolha de Pouzadoux em centrar a história na relação de Madeleine e sua filha é acertada. Na medida que a filha vai aceitando o plano da mãe idosa vamos nos envolvendo com o plano tanto quanto a família.
Baseado no livro de Noëlle Châtelet (irmã do ex-primeiro-ministro francês Lionel Jospin), que descreve a decisão da própria mãe de cometer suicídio aos 90 anos, Pouzadoux tenta colocar ambos os lados na balança, mas fica óbvio que o filme pesa mais para o lado de Madeleine e Diane, embora o filho, Pierre (Antoine Dulery, de Os Pequenos Crimes de Agatha Christie), tenha bons argumentos contra a decisão de sua mãe. Ele vê o ato de sua mãe como totalmente egoísta e equivocado, pois ela não está doente nem impossibilitada de viver sozinha.
Através de flashbacks e dos objetos que Madeleine prepara para que sejam entregues aos seus queridos familiares e amigos após sua morte, a diretora vai construindo nossa empatia pela personagem e na medida que falamos de sua iminente morte por escolha própria, também celebramos sua vida plena.
Cabe a nós, expectadores, ou a seus filhos julgar a decisão de Madeleine? Não! Ela é uma senhora lúcida e sã, mesmo no auge de seus 92 anos, mas essa é uma discussão interessante a se ter ainda assim… Quem tem pessoas mais velhas na família vai entender um pouco melhor o dilema pelo qual o filme passa.