Animais Noturnos é apenas o segundo filme de Tom Ford, do ótimo Direito de Amar e é mais um acerto do diretor. Ele faz aqui um thriller noir com Amy Adams (Batman vs Superman) e Jake Gyllenhaal (Evereste), e o transforma em um conto explosivo de amor, violência e vingança.
Um homem simpático, educado e de classe média vai atrás dos bandidos homicidas que brutalizaram sua esposa e filha – este é o enredo de Desejo de Matar, com Charles Bronson, e de outros mil thrillers de vingança como ele. Dividida entre o romance e o dinheiro, uma mulher trai o sujeito sensível que ela gosta com um ricaço que pode fornecer a vida que ela almeja – um enredo que remonta à Dallas. Misture tudo isso e, nas mãos do designer de moda Tom Ford, o longa transforma o romance Tony & Susan, escrito por Austin Wright em 1993, em arte pura.
Animais Noturnos é um filme de suspense que vai te intoxicar com os temas que ele toca. Selvagem com a violência que retrata, fala sobre o medo e a raiva primordiais dos seres humanos, mesmo que construído em torno de uma história de amor melancólica que circula sobre si mesma de maneiras complicadas e surpreendentes.
No filme, Susan (Adams) é uma negociante de arte que se sente cada vez mais isolada do parceiro (Armie Hammer, de O Nascimento de uma Nação). Um dia, ela recebe um manuscrito de autoria de Edward (Gyllenhaal), seu primeiro marido de dezenove anos atrás. Por sua vez, o trágico livro acompanha o personagem Tony Hastings, um homem que leva sua esposa (Isla Fisher, de A Última Premonição) e filha (Ellie Bamber, de Orgulho e Preconceito e Zumbis) para tirar férias, mas o passeio toma um rumo violento ao cruzar o caminho de uma gangue liderada por Ray Marcus (Aaron Taylor-Johnson, de Vingadores: Era de Ultron). Durante a tensa leitura, Susan pensa sobre as razões de ter recebido o texto, descobre verdades dolorosas sobre si mesma e relembra traumas de seu relacionamento fracassado.
À primeira vista, Animais Noturnos, com seu brilho quente de sexo e violência, parece muito diferente de Direito de Amar, um filme de época sobre um refinado professor gay na era de extrema repressão. No entanto, parece haver uma ligação orgânica entre eles. O personagem de Colin Firth em Direito de Amar pode ter sido conservador e fechado, mas ele era arrebatadoramente romântico e Animais Noturnos também não deixa de ser um filme sobre um romântico inveterado. Só que agora, o amor retratado por Ford é ameaçado por um mundo assustador e corrupto.
A começar pela sequência de abertura com gordinhas nuas balançando em câmera lenta e olhando para a câmera como strippers burlescas de meia-idade, que fazem parte de uma instalação de arte na galeria da personagem de Adams e que dão o tom para a obra toda, como uma repreensão à perfeição, causando desconforto desde o início.
A edição é elegante e às vezes ambiciosa, sem ser pretenciosa. Ford é um cineasta viciado em sensações e narrativas. Ele estrutura Animais Noturnos de forma que o passado alimenta o presente e a ficção do romance que Susan está lendo é um banho de realidade para ela.
Animais Noturnos é um filme do qual você lembrará, talvez pelo ótimo soco no estômago que ele te dá, no bom sentido da expressão (se é que ele existe!).