Ivan

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O silêncio das imagens em “Ivan”

Em Ivan, o que mais impressiona é a escolha de contar uma história quase sem palavras, confiando nas imagens para transmitir a angústia e o isolamento que permeiam a trama. Situado no Brasil dos anos 70, o filme acompanha Armando, um imigrante latino-americano, e Sonja, enquanto enfrentam as tensões crescentes de sua relação. A abordagem artística e visual faz com que o espectador entre diretamente na atmosfera fria e quase sufocante da narrativa. Aqui, cada enquadramento parece carregado de significados, criando um cinema autoral que dialoga diretamente com as emoções.

O ponto de vista do diretor é claro: a forma importa tanto quanto o conteúdo. Em uma cena, ouvimos apenas os sons do ambiente enquanto os personagens conversam; em outra, uma refeição em família é mostrada através de reflexos em objetos. Essa escolha estilística reforça a desconexão entre os personagens e ressalta o afastamento emocional em que vivem. O filho, Ivan, com sua cabeça quadrada e rosto sem traços definidos, se torna um símbolo dessa desconexão e do caos que consome a família.

Ao optar por um ritmo lento, o filme exige paciência e imersão. Ivan não é uma narrativa tradicional, mas uma experiência sensorial. A frieza estética amplifica os horrores emocionais vividos pelos personagens, especialmente à medida que Armando parece desmoronar a cada cena. É um retrato que não busca respostas fáceis ou conclusões reconfortantes, mas que se dedica a explorar os significados nas entrelinhas.

Ainda assim, a ousadia dessa abordagem tem seus limites. Em alguns momentos, o filme se torna circular, repetindo ideias já estabelecidas. Longas sequências que parecem mais focadas na beleza plástica das imagens do que no avanço da trama podem alienar espectadores menos dispostos a embarcar nesse fluxo contemplativo. Essa escolha narrativa, embora artística, dá a impressão de que Ivan às vezes fala apenas para si mesmo, dificultando uma conexão mais ampla.

Por outro lado, é difícil ignorar o talento por trás das decisões criativas. O diretor claramente imprime suas vivências pessoais na obra, tornando-a única, mas também mais hermética. Há uma poesia aqui que nem sempre rima, mas que tem um impacto visual inegável. As emoções transmitidas, ainda que distantes, revelam uma busca por entendimento em meio ao caos.

No fim, Ivan é um filme que divide opiniões, mas que não deixa de ser marcante. Seu apelo está menos em entreter e mais em provocar sensações, um convite ao espectador para entrar em um universo estranho e doloroso. Embora não seja fácil de assistir, é impossível negar a potência das imagens que constroem essa história de loucura, afastamento e solidão.

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