Kasa Branca

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"Kasa Branca" acerta em trazer uma história de cuidado e afeto vinda de jovens periféricos e comprometida com o público

Premiado no Festival do Rio de 2024, Kasa Branca é o filme mais recente de Luciano Vidigal, diretor de cinema e teatro carioca que nos últimos quinze anos vem construindo uma carreira para dar visibilidade às vidas do subúrbio, favelas e periferias do Rio de Janeiro. Justamente com esse projeto, de retratar histórias reais e acessíveis ao público, que esse filme mais recente chega com uma história altamente afetiva e passível de reconhecimento por vários lugares do Brasil.

Dé (Big Jaum) é um jovem negro e periférico como muitos. Ele cuida da avó, a Dona Almerinda (Teca Pereira), que está em fase terminal da doença de Alzheimer, e ele só quer que ela leve consigo as melhores memórias possíveis. Além disso, Dé precisa pagar as contas, já que ele não consegue trabalhar fora de casa; há aluguel, remédios, fraldas e comida. O bom é que ele tem dois amigos e uma amiga que são como a sua família e ali ninguém faz corpo mole para ajudar o neto da dona Almerinda.

Kasa Branca tem um roteiro que lembra narrativas clássicas sobre afeto e amizade, mas corre por fora do hegemônico na condução. O fato de todo mundo ser negro e perifério com certeza já causa uma boa mudança. Todos estão vivendo seus próprios corres, porém têm tempo para refletir sobre suas condições individuais. Talita (Gi Fernandes) é mãe solo e cantora, Martins (Ramon Francisco) já vem de uma família com uma condição econômica um pouco melhor e é artista, e Adrianim (Diego Francisco) é o amigo engraçado que também está vivendo a sua própria aventura de dissidência de gênero. Junto com eles vamos andando pela região, resgatando memórias e vivendo outras novas. Uma das boas sacadas de direção e elenco é juntar vários atores e atrizes que estão também na música, no YouTube – como Jaum, que é comediante, e L7nnon, que hoje é um rapper conhecido –, com grandes nomes da TV e teatro como Babu Santana e Teca Pereira. Tudo funciona e anda bem, agradando públicos de várias gerações.

Além da direção de Luciano Vidigal, o filme também levou o prêmio (merecido) de fotografia. André Sherman trabalha muito bem tanto com a luz do dia quanto com as luzes noturnas de um Rio de Janeiro visto lá de cima do morro. Uma das cenas, em que três jovens tomam banho em uma caixa d’água lá do alto, com as milhares de luzinhas de uma cidade que parece distante, é uma das mais bonitas dos últimos tempos. Assim como outra cena que contrasta com essa, de dia, do alto de outro morro, em um belíssimo plano aberto. A paisagem carioca de Kasa Branca definitivamente não é para gringo ver.

“Trabalhamos muito a humanidade e a poesia, que é o que o povo merece”, diz o diretor que também conta que guardou essa história por anos, por isso baseada em fatos reais. Kasa Branca‘ vale a pena por isso, por ser real no sentido de que fabula sobre as histórias cotidianas de gente que cuida, vive, trabalha, se diverte e sonha. Infelizmente, nem tudo são flores, mas o sentimento de comunidade, amizade e parceria sempre valem a pena em histórias bem contadas.

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