O Auto da Compadecida 2

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"O Auto da Compadecida 2": Uma continuação à altura, repleta de nostalgia e emoção

É provável que esse seja o filme brasileiro mais aguardado nos últimos anos, muito por conta da sua história de origem, da peça teatral com o mesmo nome e sim o trabalho mais famoso de Ariano Suassuna, inclusive prestes a completar 70 anos da sua primeira encenação.

Na verdade, primeiramente o trabalho foi adaptado para ser uma minissérie de televisão em 1999, o seu sucesso foi tamanho que foi transformado no ano seguinte em filme, época em que o cinema nacional não tinha muita relevância, e vinha de certa forma de um abandono de recursos e público. E contrariando a lógica da época, o filme foi um sucesso, inclusive surpreendendo por ser algo feito fora do Sudeste.

E aqui após 20 anos dessa incrível obra, chega o momento da estreia da sua continuação, sim o filme deixa claro no seu título se tratar de uma continuação, muita expectativa foi criada? Provavelmente sim, impossível não se criar várias possibilidades na cabeça no que estava por vir, mas será possível ter a mesma destreza do primeiro filme? E principalmente ser tão fiel à obra de Ariano, já que ele não se encontra mais nesse plano para ser consultado.

Para quem é fã da obra e principalmente da figura de Ariano é quase impossível não se envolver emocionalmente e não esperar nada menos do que uma obra prima, um espetáculo. E já de cara é possível dizer, O Auto da Compadecida 2 aquece demais o coração. A sutileza e poesia do encontro dos nossos herois brasileiros, João Grilo e Chicó é encantadora demais, o mesmo tipo de linguagem que qualquer outro filme não consegue replicar, a sequência faz parecer que foi instintivo. Selton e Matheus, esses atores incríveis fazem desse encontro inicial parecer realmente que são 20 anos sem se encontrar, é muito mágico.

Uma dúvida, seria repetitivo, na linguagem na maturidade? Não, não é, os personagens realmente tem uma evolução e uma velocidade de atuação condizente com o tempo que passou, óbvio que mantendo suas características e rituais tão marcantes, a do mentiroso astuto de um e o poeta frouxo de outro. Salpicando sempre um tipo de comédia único, onde é possível perceber todas as nuances de Suassuna. Mais uma vez é um filme que traz uma história de parceria e amizade, que já existia no primeiro, amizade naquele que era muito mantida por conta das necessidades de sobrevivência no sertão brasileiro, mas que aqui, no Auto 2 fica claro que o sentimento entre eles fala muito mais alto que qualquer coisa, uma delícia de contemplação de um sentimento tão importante como a amizade.

Um filme de uma dupla maravilhosa, mas que traz um elenco que se encaixa perfeitamente. Ter novamente os personagens de Rosinha e o Cangaceiro Joaquim Brejeiro foi realmente necessário para matar ainda mais a nostalgia e trazer sentido para o filme, aliás as novas participações são excelentes, Humberto Martins, Luis Miranda, Fabiola Nascimento e Eduardo Steblich, fundamentais e pontuais em suas aparições. E claro Thais Araújo, no papel de Nossa Senhora, que ao que poderia ser percebido como uma substituição a Fernanda Montenegro, traz uma nova advogada tão compadecida e justa como se faz merecer a sua participação.

O melhor de tudo: após 20 anos, uma continuação que nos surpreende, mas que continua a encantar, mantendo a cara de Brasil e se enquadrando muito bem aos tempos atuais, um filme de camaradas com uma trilha sonora incrível, que casa perfeitamente com os momentos, uma cenografia primorosa e principalmente a fidelidade a sua origem, o teatro. Ou seja, o filme mais brasileiro do Brasil conseguiu ter uma continuação a sua altura, dignos de aplausos, boas risadas e até um pouco de choro para quem acredita em sentimentos nobres, acho que Ariano agradece.

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