Filme arte é aquele que você sente e não assiste, você participa da obra junto com a ambientação, os sons e os toques. Pena que grande parte dessa poesia só faz sentido para quem criou a história e seus recursos imagéticos, ou para pessoas inseridas num diálogo fechado. O gosto pela arte pode ter uma vertente ambígua livre para interpretações, além de ser extremamente direcionada a um nicho. Onde o Mar Descansa, filme de dança dirigido por André Semenza e Fernanda Lippi, reúne uma espécie de mixtape do luto e recordações de uma mulher que perde a sua alma gêmea, seu grande amor. Em meio a essas imagens que veiculam uma ideia e não uma história, existe o ritmo que constrói os níveis desse luto e a distância entre as amadas, que mesmo por conta de visões, elas parecem estar cada vez mais separadas.
O filme, que passeia por cenários desertos e inóspitos como geleiras e florestas, cria uma atmosfera melancólica e não se preocupa com nenhuma narrativa tradicional, ou qualquer narrativa que seja. A coreografia tenta juntar os movimentos da personagem com os de câmera e também com os insertes, que não funcionam na criação dessa tristeza se compararmos com o filme Melancolia de Lars Von Trier, em que tudo se encaixa de uma maneira coesa mesmo com cortes. Mesmo assim, o longa tem a intenção de mostrar esse fluxo de ideias que evoluem nessa insanidade. A relevância do filme não consegue alcançar a importância do poema escrito por Katherine Philips, uma poetisa lésbica do século XVI, que inspirou a obra em todo seu discurso, mas não transmitiu nenhum sentimento por falta de força, dando espaço apenas para a dor da perda. Portanto, novamente, um filme arte não é para todos, existe um nicho de público específico que consome esse tipo de linguagem, mas por sua base audiovisual ser de experimentação, o filme acaba parecendo amador.