O que acontece depois que a infância institucionalizada termina? Outros Abrigos, curta-documentário dirigido por Thiago Cardoso, mergulha nas histórias de seis jovens que cresceram na Chácara Meninos de 4 Pinheiros e agora enfrentam os desafios da vida adulta. Sem os mesmos suportes que muitos consideram garantidos, eles compartilham lembranças, angústias e aspirações, criando um retrato sensível sobre resiliência e identidade.
Mais do que um registro de trajetórias individuais, o filme constrói uma narrativa coletiva sobre a experiência do acolhimento institucional. Adriano, Elton, Felipe, Leandro, Moisés e Vitor não apenas revisitam o passado, mas tentam compreender como ele moldou suas perspectivas. Entre relatos sobre adoção, apadrinhamento afetivo e integração à vida artística, há um fio condutor que os une: a busca por pertencimento.
A câmera acompanha esses jovens com um olhar próximo e respeitoso, sem interferir em seus testemunhos. Ao invés de explorar o sofrimento de forma sensacionalista, Outros Abrigos enfatiza a potência de suas vozes e o impacto do espaço que compartilharam. O documentário nos lembra que a passagem pela maioridade, para eles, significa muito mais do que uma simples mudança de idade – é um salto no desconhecido.
Há uma melancolia natural nas lembranças evocadas, mas também um sentimento de esperança que atravessa o filme. A arte surge como um refúgio e uma ferramenta de expressão para esses jovens, seja por meio da Trupe Periferia ou de outros caminhos criativos. O documentário não tenta oferecer respostas definitivas, mas evidencia como cada um constrói sua própria trajetória a partir do que viveu.
Tecnicamente, o filme se destaca pela forma fluida como costura os depoimentos. As locações em Curitiba, Mandirituba e Almirante Tamandaré ajudam a situar essas histórias dentro de um contexto geográfico e social específico, mas as emoções que transbordam na tela são universais.
No fim, Outros Abrigos nos lembra que crescer sem uma base familiar tradicional não significa estar sozinho. O documentário mostra que as conexões criadas ao longo do caminho podem ser tão fortes quanto laços de sangue. Entre lembranças e sonhos, esses jovens provam que, apesar das dificuldades, é possível encontrar novos abrigos – na arte, na amizade e na própria identidade.