“Rozz é uma Robô que sobrevive a um naufrágio e se vê sozinha em uma ilha até então intocada pela humanidade, e que agora precisa aprender a se adaptar à sua nova realidade”.
Dos mesmos criadores de Como Treinar o seu Dragão (DreamWorks Animation e Chris Sanders) temos aqui uma adaptação literária trazida pelo Universal Studios na forma de uma animação muito caprichada, que busca mostrar o impacto da tecnologia na natureza, além de fazer uma reflexão humana interna e profunda.
O longa-metragem é lindo, os traços, estilo e o design dos personagens são realmente incríveis. As técnicas de animação também são mais do que impressionantes, e mesmo assistindo a praticamente uma animação melhor que a outra ao longo desse ano, posso dizer que Robô Selvagem foi a única obra que realmente me fez ficar passeando com olhos pela telona para não perder nenhum detalhe.
“Uma pintura de Monet em uma floresta de Miyazaki”.
Mas claro, estamos falando de uma grande produção, e por isso, a história não fica para trás. Aqui temos diversos elementos interessantes ao longo de toda o longa, que não apenas nos divertem, mas, também passam mensagens muito interessantes, bonitas e com profundidade.
De maneira resumida, o filme nos traz diversas mensagens positivas, como da importância de ter alguém que cuide nós, nos apoiando e incentivando, seja na maternidade (ponto chave da história) ou na mentoria. Toca de certa maneira no tema “adoção” e ser criado por alguém “diferente” de você. Outra mensagem interligada é da importância do pertencimento, seja em um lugar e/ou em uma companhia, ademais, temas como “ser diferente”, o “bullying”, aceitação e superação também são tratados com carinho pela história.
De início temos uma Robô chamada Rozz formatada apenas para cumprir ordens de humanos, que, perdida em uma ilha, precisa se adaptar e buscar sentido para a sua existência. Logo entendemos que ela está danificada, o que faz ela ir superando sua programação original, aprendendo a pensar por si mesma, mudando a dinâmica da história.
Em pouco tempo conhecemos “Bico Vivo” um filhote de ganso que ativa algo em Rozz, que passa a cuidar dele, como sendo a sua “tarefa”, uma ordem a ser cumprida, mas, que se transforma de fato em um “instinto materno” à medida que os dois se aproximam e se descobrem.
O terceiro personagem principal, que atua entre e em volta dos dois já citados, é o Astuto, uma raposa muito esperta que ajuda Rozz e Bico Vivo no dia-a-dia, inicialmente pela sua própria sobrevivência, mas, que desenvolve amizade e amor por eles com o passar do tempo.
A evolução dos personagens principais é muito evidente, amadurecem sem perder a essência. Apesar de suas naturezas específicas, desde o começo eles vão se aproximando, e no final, mesmo sendo presas, caçadores, ou um robô com inteligência artificial, passaram por tantas coisas que aprenderam a não somente se tolerar, – ou utilizar um ao outro como meio de sobrevivência – mas, também a criar um vínculo forte, e desenvolver sentimentos profundos entre si.
Já se tratando de pontos negativos, notei alguns elementos e características principalmente no começo do filme que me incomodaram um pouco. Como por exemplo, em uma determinada sequência o filme fica a todo instante transicionando entre elementos sérios e infantis, que na tentativa de contar algo mais maduro, inclui elementos bastante caricatos, e a inabilidade de definição deixou aquele momento, pelo menos para mim, bem irritante.
A dificuldade de se comunicar apropriadamente com o espectador é algo que tenho reparado nas últimas animações em que assisti ao longo dos últimos dois anos, e ao invés de inserir temas mais maduros e adultos escondidos em uma “outra dimensão”, a mercê da bagagem e interpretação de quem assiste, misturam isso na mesma trilha em que a criança está prestando atenção, o que particularmente eu acho um pouco perigoso, expondo os meninos e meninas a elementos desnecessários. Temas infantis e adultos precisam ser trabalhados de maneira melhor, caso contrário, podem inclusive estragar a experiência da criança, que nunca vai chegar até a mensagem ou mensagens que os filmes se propõe.
A Morte é um elemento retratado várias vezes ao longo da produção, e em algumas delas a minha reação foi “Mas gente, qual a necessidade disso?”. Para um pré-adolescente, ou uma criança mais velha, talvez até passe batido, mas, o que será que uma criança de 3 ou 5 anos vá pensar ao ver tal cena? É um rápido momento, e é compreensível que exista a vontade de demonstrar a “seriedade” da natureza, em que só o melhor adaptado tem chances de sobreviver, mas, eventualmente o desenho abaixa o tom, e realmente se torna algo comum, e mais adaptado para todas as idades. E assim o espectador infantil assistindo algo engraçado, quando algo maduro cai em seu colo. Nessa questão ficou mal conduzido.
Não que os pontos negativos citados superem os pontos positivos, que eles estraguem toda a experiência, ou façam o filme ser ruim, no entanto me sinto no dever de ressaltá-los para que os pais lendo esta crítica não sejam pegos totalmente de surpresa.
Robô Selvagem é um grandioso filme de animação, que traz elementos inovadores em sua produção, uma fábula da DreamWorks que certamente irá te emocionar, contando uma história com influências de O Gigante de Ferro e Patinho Feio, assim como discussões importantes e altamente atuais para os espectadores das mais variadas idades.
Faça como o Quadro por Quadro e assista a este filme nos cinemas!