Superman III é um daqueles filmes que não envelheceu bem. Mais de 40 anos após seu lançamento, ele se tornou uma espécie de relíquia embaraçosa. O maior problema está em sua identidade: o filme não sabe se quer ser uma aventura de super-herói ou uma comédia desajeitada. O resultado é uma mistura que não funciona. Na época de seu lançamento, foi descrito como “decepcionante”, mas hoje, a palavra que melhor o define é “ruim”. Mesmo com as expectativas de 1983, os fãs da franquia não estavam preparados para um filme que, em grande parte, parecia uma paródia de si mesmo.
A grande salvação de Superman III está, sem dúvida, na performance de Christopher Reeve. Apesar do caos que cerca o roteiro e a direção, Reeve continua a entregar uma atuação sólida, tanto como Clark Kent quanto como o Homem de Aço. Ele demonstra uma leveza maior em sua atuação, especialmente nas cenas cômicas, provando sua versatilidade. A química entre Reeve e Annette O’Toole, que interpreta Lana Lang, é um dos poucos pontos positivos, mostrando uma relação mais leve e genuína, em contraste com o romance épico que Clark tinha com Lois Lane nos dois primeiros filmes.
Desde os primeiros minutos, Superman III já dá sinais de que algo está errado. Em vez dos créditos abrirem contra o vasto fundo do espaço, temos uma sequência de comédia slapstick nas ruas de Metrópolis. A trilha icônica de John Williams não está presente no início, e o tom campy da direção de Richard Lester domina o filme. No segundo filme, Lester já mostrava tendências cômicas, mas elas eram equilibradas com a seriedade do trabalho de Richard Donner. Em Superman III, sem essa restrição, o diretor transforma a trama em uma verdadeira farsa.
Os vilões da vez são Gus Gorman (interpretado por Richard Pryor), um gênio da computação com tendências cômicas, e Ross Webster (Robert Vaughn), um magnata dos negócios. Embora Pryor seja um comediante brilhante, seu personagem parece deslocado no universo do herói, e Vaughn, apesar de sua presença, não consegue entregar um vilão verdadeiramente ameaçador. A trama chega ao seu ponto mais estranho quando um “Superman Egoísta” emerge, resultado de uma exposição a um tipo de kryptonita, levando a um confronto ridículo entre o Clark Kent bonzinho e sua versão sombria.
A primeira metade do filme gira em torno de Gus usando suas habilidades para desviar frações de centavos e, eventualmente, ser contratado por Webster para implementar um esquema maior envolvendo o controle do suprimento global de petróleo. Enquanto isso, Superman está em Smallville para cobrir uma reunião de sua antiga escola, onde reencontra Lana Lang. Essa subtrama até traz um respiro emocional à narrativa, mas é rapidamente ofuscada pela sequência absurda envolvendo a construção de um supercomputador que ameaça o herói.
A escolha de não usar um vilão clássico dos quadrinhos de Superman é uma das grandes falhas do filme. Diante de tantas opções, por que criar um vilão genérico como Webster e trazer um comediante como Pryor para um papel que nunca chega a ser realmente ameaçador? A ideia de um supercomputador ganhando consciência poderia ter sido intrigante, mas a execução é fraca e mal planejada. O roteiro, escrito por David e Leslie Newman, é desconexo e parece ter sido montado sem coesão.
A identidade de Superman III é indefinida, e o filme nunca se compromete totalmente com o gênero de aventura ou de comédia. Há momentos em que tenta flertar com o estilo de paródia, mas falha ao fazer isso de forma consistente. Quando comparado a filmes que equilibram bem esses gêneros, como Deadpool ou Shazam!, Superman III fica evidente como uma oportunidade desperdiçada. O filme marcou uma queda na qualidade da franquia após o sucesso de Superman II, algo refletido nas duras críticas que recebeu.
Além dos problemas narrativos, os efeitos especiais, que foram um dos pontos fortes nos dois primeiros filmes, em Superman III parecem datados e mal executados. O que antes era visto como tecnologia de ponta se tornou barato e nada impressionante. A falta de capricho visual contribui ainda mais para o sentimento de que o filme não leva seu universo a sério.
Margot Kidder, que interpretou Lois Lane, é praticamente relegada a uma participação especial, algo que ficou evidente após sua insatisfação com o rumo que a franquia tomou após a saída de Richard Donner. Outros personagens como Perry White e Jimmy Olsen também têm seu tempo de tela drasticamente reduzido, contribuindo para a sensação de desconexão com os filmes anteriores.
No fim das contas, Superman III deixou cicatrizes profundas na franquia, com seu fracasso afetando até mesmo o futuro da série. A má recepção fez com que Christopher Reeve reconsiderasse sua participação em projetos futuros, incluindo sua ausência em Supergirl. Mesmo com o retorno em Superman IV: Em Busca da Paz em 1987, o estrago já estava feito, e Superman III continua sendo uma mancha na história cinematográfica do Homem de Aço.