The Boys – 2ª Temporada

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The Boys mergulha de cabeça na sátira do absurdo e entrega uma temporada mais solta, divertida e sádica

Lá em 2006, Garth Ennis e Darick Robertson se aventuravam na criação de uma polêmica história em quadrinhos que satirizava os super-heróis de forma absurda, sangrenta e hilária. O conteúdo foi tão forte que precisou se desvincular do selo da DC Comics por se inspirar e zoar demais com seus personagens da Liga da Justiça, passando então para a Dynamite Entertainment. Os quadrinhos foram publicados até 2012 e só em 2019, a aclamada The Boys, finalmente chegou nas telas pelas mãos de Eric Kripke na Amazon Prime Video. Para quem ama ou odeia super-heróis, a série chegou como algo novo no catálogo do streaming e foi um sucesso inesperado, mas mesmo assim é injusto comparar com a segunda temporada, que evoluiu muitas casas não só em termos de produção, mas de se mostrar completamente destemida, mais madura e sem vergonha em reproduzir cenas icônicas dos quadrinhos e incorporar um dna bem particular que só The Boys consegue sustentar.

Sem deixar nenhuma ponta solta, os primeiros episódios já mostram que a abordagem vai ser mais intensa e sem enrolação. De cara, vemos os Boys foragidos e Billy Butcher (Karl Urban) sendo acusado de ter matado Madelyn Stillwell (Elisabeth Shue), a mentora, amante e figura materna de Homelander. A ameaça dos superterroristas, criados a partir de experiências com o composto V, dão uma agitada no arco de Kimiko (Karen Fukuhara), que tenta salvar seu irmão de ser um alvo da Vought, isso faz com que os Boys se unam ainda mais sem a presença de Butcher, conseguindo desenvolver melhor as camadas de Frenchie (Tomer Capon), Milk (Laz Alonso) e a emancipação de Hughie (Jack Quaid) através da própria dinâmica atual, sem recorrer a flashbacks extensos e narrações delongadas.

Tempesta (Aya Cash), a nova adição de supers da temporada é quem movimenta ambas as tramas, tanto dos Boys quanto dos supers. Mesmo um pouco diferente dos quadrinhos, sua personagem é ainda mais relevante para o mundo atual, que utiliza a suscetibilidade a verdades de redes sociais e incitações ao ódio em alto e bom som sem que ninguém se dê conta, mostrando o quão frágil é a sociedade. Quem também entra na fila de destaque da temporada é o sensacional Homelander de Antony Starr, que fica desorientado após a perda de Madelyn e não sabe o que fazer com sua liberdade, ganhando as cenas mais controversas, bizarras e malucas da série. Mesmo que pense que agora nada pode o deter, ele enxerga em Tempesta um apoio para sua condição bizarra no mundo e também para sua relação frágil com o menino Ryan (Cameron Crovetti), que conecta perfeitamente os enredos do pai super e também de Butcher.

O equilíbrio das tramas nesse segundo ano tende a corrigir o que não tinha mais chance de funcionar, como justamente a relação entre Becca (Shantel VanSanten) e Butcher, que se arrastou por um motivo justificável, mas olhando para trás, poderia ter sido evitado. O ritmo frenético tem sua pausa nas cenas entre Hughie e Starlight (Erin Moriarty), que vivem um romance bem cartunesco e fazem o estilo detetives do prédio azul mais fajuto. Porém é nas cenas sozinha, que a heroína se reinventa sem medo de partir para a ação e aprende a jogar o jogo sujo da Vought. Claro, nem tudo são flores e a série escorrega em 2 episódios ao criar um evento desnecessário, como a parte de Black Noir, que deixou muitas pontas soltas alí só para mostrar um embate do personagem que nunca aparece. Mas, esses deslizes não são capazes de derrotar a experiência alucinante que a série proporciona com soluções criativas e explosivas para seus problemas.

É por momentos memoráveis como cabeças sendo explodidas, pênis gigantes e uma cena de pancadaria girl power ao som de Peaches digna de respeito, que a produção conquista a melhor temporada até então e se prepara não só para a terceira, mas também para outra série derivada. O gênero de super-heróis pode até ter se esgotado ao longo desses anos, mas é evidente que The Boys se mantém na conversa por fazer tudo ao contrário e conseguir conquistar seu público pela audácia e cara de pau.  

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