E assim como não teria possibilidade de falar sobre A Voz Suprema do Blues em sua totalidade, vou falar sobre Uma Noite em Miami… pelo pouco que minha possibilidade permite. O filme é sobre uma noite na qual quatro amigos, com suas falhas e acertos, quatro humanos, se reúnem para celebrar a vitória de um deles. Podia ser simples assim, mas vale lembrar que a noite se passa em fevereiro de 1964, em Miami, no meio do período de Movimento dos Direitos Civis nos Estados Unidos, reunindo quatro amigos negros que você deve conhecer: Malcom X (Kingsley Ben-Adir), Cassius Clay, mais conhecido como Muhammad Ali (Eli Goree), Jim Brown, famoso jogador da NFL (Aldis Hodge, de Estrelas Além do Tempo) e Sam Cooke, cantor e compositor de R&B (Leslie Odom, concorrendo ao Oscar de Melhor Ator Coadjuvante, que atuou no musical Hamilton na Broadway e no filme de mesmo nome que também concorre ao Oscar).
Os quatro amigos de longa data, famosos neste período de suas vidas, se reúnem a princípio para comemorar a vitória de Cassius Clay. Mas com o Movimento dos Direitos Civis a pleno vapor, será que eles conseguem ignorar tudo que está acontecendo e comemorar a vitória do amigo? Questões tão atuais ainda hoje, infelizmente, pois parece que pouca coisa mudou. Questões que nos deixam entristecidos e nos fazem refletir, como em Judas e o Messias Negro (veja a resenha aqui).
O filme é baseado em uma peça de mesmo nome (assim como A Voz Suprema do Blues e Hamilton, olha só!), então você pode prever, de cara, um filme que se sustenta nos diálogos. E que diálogos. Mas para compensar, e não parecer uma peça de teatro, a diretora estreante Regina King (que ganhou o Oscar ano passado pela atuação em Se a Rua Beale Falasse e concorreu ao Globo de Ouro de melhor direção por Uma Noite em Miami…) faz o simples e quieto filme de época pular da tela com suas cores saturadas e visual atrativo. Além do incrível uso de espelhos no pequeno quarto de hotel onde a maior parte de todo o filme se passa.
Falando sobre o roteiro do filme, como mencionei anteriormente, ele foi adaptado da peça de mesmo nome, Uma Noite em Miami…, de Kemp Powers. Foi o escritor que adaptou a peça para se transformar no filme que a Amazon Prime bancou, e está concorrendo ao Oscar de Melhor Roteiro Adaptado por isso. E pra contar toda a verdade, Kemp Powers é o primeiro diretor de animação negro da história da Disney (ele codirigiu Soul com outros três profissionais), e também trabalhou no roteiro da animação (e “Soul” está concorrendo ao Oscar de Melhor Filme de Animação, Melhor Trilha Sonora Original e Melhor Som – veja a resenha do filme aqui).
E para falar sobre o último Oscar que o filme está concorrendo, o de Melhor Canção Original, você vai ter que assistir o filme. Ela fecha o filme, que cresce e culmina nessa canção, “Speak Now”, uma releitura da música que Sam Cooke cantou ao vivo no The Tonight Show, “A Change is Gonna Come”.
Se nada disso te convenceu a assistir ao filme – tenho certeza que essa resenha não fez justiça à toda beleza e importância do filme, pois posso apenas falar do meu ponto de vista e vivência, que não se compara a de um negro, que vive com o preconceito dia após dia no Brasil e no mundo –, espero que você o assista por seu dever como cidadão, para saber um pouco mais da história de quatro personagens negros importantes para a história da humanidade. E prometo, você vai gostar.