Tipos de Gentileza

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"Tipos de Gentileza": A inesperada jornada do incomum

Tipos de Gentileza, o mais recente trabalho do cineasta Yorgos Lanthimos (Pobres Criaturas), apresenta uma mistura peculiar de humor sombrio, drama e momentos de puro surrealismo. Com três histórias que exploram os desafios pessoais de seus protagonistas, o filme oferece uma experiência cinematográfica intrigante, repleta de camadas de significado e interpretações abertas. Como de costume em suas obras, Lanthimos evita o caminho fácil e linear, mergulhando o espectador em uma narrativa fragmentada que privilegia o clima, os sentimentos e o inesperado.

O filme é um desafio para quem busca uma história convencional. Ao longo de mais de 160 minutos, Tipos de Gentileza desconstroi as expectativas do público, não seguindo uma lógica narrativa tradicional. Em vez disso, Lanthimos se concentra em momentos-chave que capturam o absurdo e o bizarro, misturando o real com o surreal. Isso pode ser frustrante para alguns, mas para quem aprecia o estilo imprevisível do diretor, é uma exploração fascinante do potencial cinematográfico dele.

Uma característica marcante de Tipos de Gentileza é o humor sombrio. Lanthimos nos oferece uma comédia sombria, permeada de situações absurdas e diálogos afiados. Embora o filme traga risos inesperados, a comédia é sempre entrelaçada com uma sensação de desconforto, refletindo o estilo único do diretor. A cena final é um exemplo brilhante dessa combinação: ao mesmo tempo hilariante e existencialmente perturbadora, ela encapsula o tom peculiar do filme.

As três histórias, intituladas “A Morte de R.M.F.”, “R.M.F. Está Voando” e “R.M.F. Come um Sanduíche”, não seguem um enredo claro ou fechado. Cada uma tem sua própria lógica interna, mas nenhuma se preocupa em amarrar todas as pontas soltas. Os títulos, embora interessantes, não oferecem muitas pistas sobre o que realmente acontece em cada segmento, deixando o espectador livre para interpretar os eventos da maneira como preferir.

Um dos grandes destaques do filme é o elenco, que, assim como nas obras anteriores de Lanthimos, desempenha múltiplos papeis ao longo das três histórias. Yorgos Stefanakos, que interpreta o enigmático R.M.F., aparece em todas as narrativas, mas seu papel é mais simbólico do que essencial. A verdadeira força do filme reside nas performances de atores como Jesse Plemons, Emma Stone e Willem Dafoe, que entregam atuações intensas e multifacetadas.

“A Morte de R.M.F.” é provavelmente o segmento mais impactante. Nele, Jesse Plemons interpreta Robert, um homem que vive à mercê de seu chefe manipulador, Raymond (Willem Dafoe). O segmento explora temas de controle, poder e submissão, com uma reviravolta final que é tão perturbadora quanto inesperada. A presença de Emma Stone como Rita adiciona uma camada de mistério e tensão à história.

Em “R.M.F. Está Voando”, a trama gira em torno de um policial (interpretado novamente por Plemons) que lida com o retorno misterioso de sua esposa, Liz (Stone), após ela ter desaparecido no mar. Esta história é uma mistura de ficção científica e mistério, com Lanthimos jogando com a percepção do público sobre a realidade e a identidade dos personagens.

Finalmente, “R.M.F. Come um Sanduíche” leva o público ao coração de uma seita espiritual, onde crenças e desilusões se entrelaçam de maneiras inesperadas. Esse segmento é um estudo deturpado sobre fé, poder e redenção, com performances impactantes de Plemons e Stone, que interpretam dois membros da seita que segue um curandeiro mítico interpretado por Dafoe.

Tipos de Gentileza não é um filme fácil de entender, nem pretende ser. Sua força está na maneira como Lanthimos desafia as convenções narrativas, oferecendo ao público uma experiência cinematográfica que é ao mesmo tempo desconcertante e cativante. Para os fãs de O Lagosta e O Sacrifício do Cervo Sagrado, este filme é uma continuação bem-vinda do estilo inimitável de Lanthimos, cheio de surpresas e reviravoltas.

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