O lançamento de Batman em 1989 representou um marco para os filmes de super-heróis e um grande triunfo para a Warner Bros. Com a promessa de uma abordagem mais sombria e fiel ao tom dos quadrinhos, diferente da série televisiva dos anos 1960, os fãs ficaram entusiasmados. A decisão de se afastar do clima cômico para algo mais sério foi arriscada, mas o sucesso de bilheteria comprovou que o público estava pronto para ver o Cavaleiro das Trevas sob uma nova luz.
No entanto, ao revisitar Batman hoje, após décadas de evolução no gênero de super-heróis, fica evidente que, apesar de todo o seu impacto cultural, o filme tem algumas falhas notáveis. A narrativa central foca mais no surgimento do Coringa, interpretado por Jack Nicholson, do que no desenvolvimento do próprio Batman. Isso torna o filme quase uma celebração do vilão, enquanto o herói, vivido por Michael Keaton, se torna um coadjuvante em sua própria história.
É interessante notar que, embora Batman seja, em teoria, uma história de origem, o foco está muito mais na transformação de Jack Napier em Coringa do que no passado de Bruce Wayne. A traumática origem de Batman é abordada brevemente em um flashback, mas o filme não se aprofunda no desenvolvimento psicológico do personagem. Em vez disso, vemos um Batman que já está em plena atividade, combatendo o crime com seus gadgets e intimidando os criminosos de Gotham.
O grande destaque do filme é, sem dúvida, Jack Nicholson. Seu Coringa é caricato, exagerado e completamente envolvente. Embora sua performance não seja exatamente “grande atuação” no sentido clássico, é inegavelmente divertida de assistir. O problema é que, com tanto foco no Coringa, Batman acaba perdendo a oportunidade de explorar mais a fundo o próprio Bruce Wayne e suas motivações.
A relação entre Bruce Wayne e Vicki Vale, interpretada por Kim Basinger, também é um ponto fraco do filme. O romance entre os dois é superficial e pouco convincente, tornando difícil para o público se importar com esse lado da história. Basinger, que deveria ser um interesse amoroso significativo, acaba sendo uma personagem unidimensional e, em última análise, dispensável.
Por outro lado, o visual de Batman é inegavelmente impressionante. Com Tim Burton na direção, o filme apresenta uma Gotham City sombria e estilizada, que se tornou icônica. A direção de arte e a decoração de set são tão impressionantes que renderam ao filme um Oscar, e a estética noir combinada com a visão futurista de Burton criou um ambiente visualmente fascinante. Entretanto, essa grandiosidade visual muitas vezes ofusca o desenvolvimento narrativo, tornando o filme mais uma experiência estética do que uma narrativa coesa.
A trilha sonora de Danny Elfman complementa perfeitamente a atmosfera do filme, capturando tanto a grandiosidade quanto a melancolia do personagem principal. No entanto, a inclusão de músicas de Prince soa como uma tentativa de capitalizar em cima do marketing, sem realmente adicionar algo significativo ao filme.
Em retrospectiva, Batman é um entretenimento sólido, mas longe de ser um filme perfeito. Embora tenha seus momentos brilhantes, ele se destaca mais pelo que poderia ter sido do que pelo que realmente é. Felizmente, seu sucesso pavimentou o caminho para Batman: O Retorno, um filme que corrigiu muitos dos erros de seu antecessor e trouxe um equilíbrio muito mais satisfatório entre o herói e seus inimigos.