Batman, dirigido por Matt Reeves, resgata o icônico herói de Gotham das sombras e o apresenta sob uma nova perspectiva, equilibrando elementos de mistério e investigação com o charme sombrio que o personagem merece. Abandonando o tom excessivamente exagerado dos anos de Tim Burton e Joel Schumacher, assim como as indulgências de Zack Snyder, este reboot opta por um estilo mais realista e centrado nos aspectos humanos de Bruce Wayne, agora interpretado por Robert Pattinson.
Diferente dos filmes anteriores que focaram nas origens do personagem, Batman começa em um ponto onde Bruce Wayne já assumiu seu papel de vigilante em Gotham. A cidade está imersa na corrupção, com líderes do crime como Carmine Falcone e Oswald “Pinguim” Cobblepot, interpretados respectivamente por John Turturro e Colin Farrell, dominando os bastidores. Aqui, Bruce está em seu segundo ano como o Cavaleiro das Trevas, trabalhando ao lado de seu único aliado na polícia, o tenente James Gordon (Jeffrey Wright), em uma investigação sombria sobre uma série de assassinatos cometidos pelo vilão Charada (Paul Dano).
A abordagem de Reeves lembra muito o estilo noir, misturando elementos clássicos de filmes de detetive com a estética dos quadrinhos. A narrativa se desenrola como um thriller psicológico, com o Charada agindo como um assassino em série que deixa pistas complexas para Batman e Gordon. O clima de suspense é constante e a atmosfera de Gotham é retratada com uma escuridão palpável, lembrando os melhores momentos da trilogia de Nolan. A decisão de focar menos em grandes cenas de ação e mais na resolução de enigmas e mistérios traz uma profundidade rara para o gênero de super-heróis.
Embora Batman seja um filme longo e com uma trama complexa, que por vezes parece se perder em subtramas tangenciais, Reeves e o co-roteirista Peter Craig conseguem manter o público engajado com reviravoltas inesperadas e um desenvolvimento de personagens bem construído. As cenas de ação são menos frequentes, mas quando ocorrem, como na impressionante perseguição de carros com o Batmóvel ou nas lutas intensas contra múltiplos oponentes, são memoráveis e bem coreografadas, destacando a fisicalidade de Batman sem recorrer a efeitos especiais exagerados.
Robert Pattinson oferece uma interpretação intrigante como Bruce Wayne. Sua versão do personagem é mais introspectiva e sombria, talvez até mais do que o necessário, mas ainda assim ele consegue capturar o conflito interno de Wayne de forma convincente. Como Batman, Pattinson é mais expressivo e dinâmico, revelando um herói que está aprendendo a lidar com seus próprios demônios enquanto tenta salvar Gotham dos males que a assolam.
O elenco de apoio é notável. Zoe Kravitz, como Selina Kyle, traz uma versão mais humanizada da Mulher-Gato, que é tanto uma aliada quanto uma enigma para Batman. Colin Farrell está irreconhecível como Pinguim, sugerindo grandes planos para o personagem no futuro. Paul Dano, como Charada, oferece uma performance inquietante e perturbadora, lembrando o público de que Gotham é um lugar onde o mal pode tomar qualquer forma. Andy Serkis como Alfred e Jeffrey Wright como Gordon complementam o elenco com atuações sólidas, contribuindo para o tom sombrio e realista do filme.
Os aspectos técnicos de Batman são igualmente impressionantes. A cinematografia de Greig Fraser utiliza luz e sombra para criar uma Gotham que é tanto realista quanto estilizada, com alguns dos melhores momentos visuais do filme sendo capturados em silhuetas impressionantes. A trilha sonora de Michael Giacchino é atmosférica e poderosa, complementando perfeitamente o tom melancólico e sombrio do filme.
Batman é, sem dúvida, um dos melhores filmes de super-heróis desde Vingadores: Guerra Infinita e o melhor filme do personagem desde O Cavaleiro das Trevas. Suas forças residem em suas diferenças e na capacidade de Reeves de entregar um filme que, embora satisfaça as expectativas de ação dos fãs, evita as fórmulas repetitivas que prejudicam muitos filmes de super-heróis. Em um momento em que muitas franquias de quadrinhos buscam ir cada vez mais longe, explorando seres cósmicos e multiversos, a abordagem pé-no-chão de Batman oferece um alívio bem-vindo.
