Se Hellboy foi um aperitivo, então Hellboy 2: O Exército Dourado é o prato principal. Neste segundo filme, Guillermo del Toro se mostra mais confiante na direção, oferecendo uma narrativa mais bem ritmada e com um componente emocional mais forte. O filme é uma mistura de ação, emoção e humor, com momentos inesperados como uma cena de karaokê de Barry Manilow. Tudo isso mantém o foco onde deveria estar: no protagonista, Hellboy. No entanto, mesmo com todos esses pontos positivos, o filme tropeça em algumas incoerências no final, deixando buracos na trama que prejudicam um pouco a experiência.
A continuação assume que o público já assistiu ao primeiro filme, não se preocupando muito em fornecer contexto sobre os personagens e suas histórias. A trama se concentra mais na “família” de desajustados que compõem a Agência de Pesquisa e Defesa Paranormal dos Estados Unidos. Hellboy, o herói vermelho e sarcástico com um coração mole por sua amada Liz Sherman, continua a ser o centro das atenções. Liz, que no primeiro filme era mais reservada, agora se mostra uma heroína confiante e autoconsciente. Abe Sapien, o inteligente anfíbio azul, complementa Hellboy com sua calma. A novidade é Johann Krauss, um ser de ectoplasma que traz novas dinâmicas à equipe.
O vilão da vez é o príncipe elfo Nuada, que busca recuperar as três partes de uma coroa mágica que lhe dará controle sobre o Exército Dourado – uma horda de guerreiros indestrutíveis. A história é mais uma aventura de fantasia do que uma típica narrativa de super-herói. Com sua estética visual rica e criativa, Hellboy 2: O Exército Dourado se aproxima mais de O Labirinto do Fauno do que de seu antecessor. Elementos como trolls, goblins, elfos e elementais ganham vida de maneira impressionante, e uma das sequências mais marcantes é a visita ao “Mercado dos Trolls”, que lembra tanto a cantina de Star Wars quanto o Beco Diagonal de Harry Potter.
As interpretações dos personagens são impecáveis. Ron Perlman continua a dominar o papel de Hellboy, mantendo o tom que estabeleceu no primeiro filme. Selma Blair evolui significativamente como Liz, e Doug Jones expande a profundidade de Abe Sapien. Os novos personagens, especialmente os gêmeos elfos Nuada e Nuala, são adicionados de forma eficaz, trazendo uma carga de tragédia ao enredo. Jeffrey Tambor retorna como o burocrata chefe da agência, proporcionando alívio cômico e contrastando com o clima fantástico da história.
Como diretor de ação, Guillermo del Toro mostra um avanço considerável desde o primeiro filme. As lutas em Hellboy 2 são impressionantes e bem coreografadas, com cada personagem tendo a oportunidade de brilhar em batalhas emocionantes. Desde Liz incinerando uma horda de “fadas dos dentes” até Abe defendendo Nuala com sua inteligência e determinação, todos têm seu momento. Hellboy, como sempre, está no meio da ação, destruindo tudo ao seu redor e mostrando que, apesar de sua aparência robusta, ele é vulnerável.
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Hellboy 2: O Exército Dourado também insinua futuros enredos com uma profecia que se encaixa perfeitamente no estilo das épicas narrativas de fantasia. Fica claro que a visão de del Toro é transformar Hellboy em uma franquia duradoura e evolutiva, algo que muitas histórias de super-heróis falham em conseguir, caindo na armadilha de se tornarem estáticas e repetitivas. Ao contrário das franquias de Superman e Batman das décadas passadas, del Toro busca algo diferente para o Grande Vermelho.
No entanto, do ponto de vista da trama, o filme comete dois grandes erros em seu desfecho. Roteiros bem polidos não deveriam ter falhas tão evidentes, o que levanta a questão se algo importante foi cortado na edição final. Essas questões são difíceis de ignorar e afetam a integridade do final, o que, por sua vez, faz o filme perder um pouco de seu brilho. Mesmo com esses problemas, Hellboy 2 ainda é um entretenimento sólido, mas é uma pena que esses defeitos impeçam o filme de alcançar um outro nível.
Em resumo, Hellboy 2: O Exército Dourado é uma aventura de fantasia que expande o universo de Hellboy de maneira criativa e divertida. Embora tenha suas falhas, o filme oferece uma experiência visualmente deslumbrante e personagens cativantes, mantendo o público envolvido do início ao fim. Para os fãs do gênero e do trabalho de Guillermo del Toro, esta é uma sequência que vale a pena conferir.