Hellboy e o Homem Torto nos evidencia uma história episódica, não necessariamente sequencial as prévias entradas cinematográficas da franquia, baseado na série limitada Hellboy: The Crooked Man and Others, de 2008, tem a premissa de ser mais próxima aos quadrinhos de Mike Mignola. Praticamente um “conto folclórico Apalache”, esta entrada é uma mistura nem sempre homogênea de ação, suspense, terror sobrenatural, folclore, e do humor característico do personagem principal.
“…ouvi histórias sobre ele a minha vida inteira, muitos o chamam de… O Homem Torto!” — Tom Ferrell
Ambientado nos anos 1950 em uma região “mítica” e “mística” do nordeste dos Estados Unidos da América, conhecida como os “Apalaches”, Hellboy e o Homem Torto nos traz um entretenimento justo, – que supera as expectativas em relação ao seu baixo orçamento, principalmente se comparado aos filmes anteriores – com criaturas sobrenaturais, momentos de suspense inquietantes, efeitos visuais satisfatórios, uma história amarradinha, sequências de ação de tirar o fôlego, e personagens interessantes.
“Esse lugar tem cheiro de morte… e merda de pássaro!” — Hellboy
Um aspecto interessante, que vale para todos os personagens, é de que eles não medem as palavras, falam o que dá na telha no calor do momento. São todos bem escritos, com personalidades bem únicas e destacadas. Ao mesmo tempo que se encaixam na nossa noção de como seriam realmente, também agregam em si elementos em suas auras, do quase-cômico e bem humorado, ao confuso e sombrio.
Hellboy (Jack Kesy, de The Strain) é um ser totalmente diferente, que se destaca em todo e qualquer lugar em que esteja, mas, que na mesma proporção, é fruto da época e do ambiente em que está inserido, resultando em um sujeito de personalidade única, icônica e peculiar, tanto para para os personagens dentro da história, quanto para o espectador.
Bobbie Jo Song (Adeline Rudolph, de O Mundo Sombrio de Sabrina) é uma agente novata, mas, não tão inexperiente assim, já que além de tirar conhecimento de seus livros e pesquisas, é inteligente o bastante para tomar decisões de forma rápida e eficiente. É uma mulher normal, que demonstra fragilidade e força ao longo da história, de maneira natural e humana.
To Ferrell (Jefferson White, de Yellowstone) é um jovem adulto abatido pelas más experiências da vida, com algum conhecimento sobrenatural, e que se torna parte do grupo por acaso, ao visitar sua comunidade natal.
Reverend Watts (Joseph Marcell, de Um Maluco no Pedaço) não é 100% o que você espera de um padre ou pastor, já que de certa maneira ele é bem peculiar, além disso, ao mesmo tempo que é “um homem santo”, cheio de fé, também é bastante pé no chão, uma quase antítese do Hellboy.
E sobre o Homem Torto? Só assistindo para descobrir.
De maneira geral, a Direção e fotografia são boas por quase todo o filme, deixando escapar algumas vezes uma característica de “Filme Independente anos 2000”, – sem estragar a experiência – e, que além disso, consegue assinalar a “personalidade” Hellboy à produção, deixando a obra com cara e jeito daquilo que imaginamos que Hellboy seja.
O filme é bonito visualmente, seja pelas paisagens abertas, construção de cenários, figurino e efeitos especiais, mas, certamente o destaque vai para a maquiagem, que ficou muito bem executada, principalmente nos personagens chave: Hellboy e Homem Torto.
Existe uma dicotomia, por assim dizer, pairando do início ao fim, sempre estampada em cada momento, em cada personagem, em cada escolha, o belo criado por Deus, e a corrupção feita pelo “demônio”, assim como também, sem querer me contradizer, uma linha tênue, uma camada cinza, em que algo inerte pode ser usado para o mal, e algo que supostamente é do mal, usado para fazer o bem.
Resumindo, o roteiro é bem fechado, contando uma história episódica que abre espaço para muitos gêneros serem explorados em vários momentos ao longo da obra, como por exemplo, drama, suspense, e ação, e além disso, nada é muito mastigado, precisando que o espectador ligue alguns pontos. Visualmente o filme é bonito, personagens bem escritos, e atuações precisas.
O entretenimento é satisfatório, seja para os fãs dos quadrinhos, para quem já assistiu as outras adaptações cinematográficas, ou até mesmo para um espectador casual ou que está entrando neste “universo” pela primeira vez.
Faça como o Quadro por Quadro e assista Hellboy e o Homem Torto nos cinemas.