Dirigido por Edward Dmytryk, Rancor é um clássico do cinema noir que combina o estilo sombrio do gênero com uma narrativa corajosa sobre intolerância e ódio. Baseado no romance The Brick Foxhole de Richard Brooks, o roteiro adaptado por John Paxton troca o foco original da homofobia para o antissemitismo, abordando a brutalidade de um crime motivado por preconceito e suas implicações sociais.
A trama acompanha o detetive Finlay (Robert Young), que investiga o assassinato do judeu Joseph Samuels, aparentemente cometido por um grupo de soldados. À medida que os eventos daquela noite fatídica são revelados em flashbacks, o filme constrói um retrato multifacetado de suspeitos e testemunhas, colocando o público diante de uma narrativa envolvente e inquietante. Robert Ryan brilha como o psicótico sargento Monty, cuja brutalidade e fanatismo impulsionam os eventos centrais da história.
A estética noir é um dos pontos altos de Rancor, com a fotografia em preto e branco de J. Roy Hunt criando um ambiente de tensão constante. As sombras estilizadas e os enquadramentos precisos enfatizam o clima de paranoia e dúvida, enquanto a trilha sonora evocativa de Roy Webb adiciona camadas emocionais à história. A atmosfera sombria do filme não apenas reforça sua identidade visual, mas também sublinha o peso de sua mensagem.
As atuações são outro destaque, especialmente as de Robert Ryan e Gloria Grahame. Ryan entrega uma performance intensa e perturbadora como o antagonista, enquanto Grahame, em um papel pequeno, mas impactante, como uma dançarina de salão, adiciona um toque de vulnerabilidade e humanidade ao filme. Ambos foram indicados ao Oscar por seus papéis, o que atesta a força de suas interpretações.
Dmytryk não se limita a criticar o preconceito individual, mas também aponta para as estruturas que o permitem florescer. O diálogo franco e os momentos de confronto emocional reforçam as consequências devastadoras do ódio, sem jamais parecer didático. Essa abordagem torna o filme tão relevante hoje quanto era em 1947, um lembrete sombrio de que o preconceito ainda é uma questão a ser tratada.
Embora tenha perdido o Oscar de Melhor Filme para A Luz é para Todos, de Elia Kazan, Rancor se destaca como uma obra mais ousadas e estilisticamente inovadora. Sua combinação de tensão noir com uma mensagem social poderosa faz dele um clássico atemporal, que continua a provocar reflexão e a inspirar discussões sobre os males do preconceito e da intolerância.