Animais Fantásticos: Os Crimes de Grindelwald traz de volta o universo mágico criado por J.K. Rowling, mas com uma narrativa que funciona mais como um elo de ligação do que como uma história independente. A sensação de que este é apenas um capítulo intermediário dentro de uma saga maior é constante, o que deixa o filme com uma identidade própria enfraquecida. Diferente de Animais Fantásticos e Onde Habitam, que conseguiu contar uma história auto suficiente dentro de um universo mais amplo, Os Crimes de Grindelwald é claramente voltado para o desenvolvimento do mundo e preparação para eventos futuros.
Mesmo com uma trama leve, o filme oferece pequenos prazeres aos fãs, principalmente ao conectar-se mais diretamente com a saga de Harry Potter. Um dos pontos altos é a introdução de um jovem Alvo Dumbledore, vivido por Jude Law, além do reencontro com Hogwarts, que se mantém visualmente familiar, apesar de se passar décadas antes dos eventos de A Pedra Filosofal.
Rowling, conhecida por sua habilidade em criar histórias de fundo complexas, dedica boa parte do filme ao desenvolvimento das políticas nebulosas do mundo bruxo no período entre guerras. O vilão Grindelwald, interpretado por Johnny Depp, é desenhado com claras referências a figuras históricas como Hitler, o que torna suas motivações e discursos ainda mais inquietantes. O objetivo de Grindelwald vai além de simplesmente trazer os bruxos à luz: ele deseja que os bruxos governem o mundo, com os não-mágicos ocupando uma posição subserviente.
Os personagens principais do primeiro filme retornam, mas com papeis visivelmente diminuídos. Newt Scamander (Eddie Redmayne) continua sendo o protagonista, mas sua jornada é menos centralizada na trama. Boa parte do seu tempo é dedicado à busca por Tina Goldstein (Katherine Waterston) e à investigação sobre Credence Barebone (Ezra Miller). No entanto, os verdadeiros peões dessa história são Dumbledore e Grindelwald, cuja relação e iminente confronto moldam o destino do universo mágico.
Os momentos mais impactantes de Os Crimes de Grindelwald são os baseados nos personagens. Embora o filme esteja repleto de espetáculos visuais e efeitos especiais impressionantes, são as cenas menores e mais íntimas que realmente deixam uma marca. A interação entre Newt e Tina retoma o charme do primeiro filme, enquanto a relação entre Newt, Leta Lestrange (Zoe Kravitz) e seu irmão Theseus (Callum Turner) adiciona um toque de melancolia.
Por outro lado, as sequências de ação não conseguem manter o mesmo nível de tensão e emoção. Embora visualmente impressionantes, como na cena inicial do sequestro da carruagem-prisão, falta um verdadeiro senso de perigo. Até mesmo o confronto final, marcado por chamas azuis e laranjas, não consegue gerar a expectativa que deveria.
Um ponto problemático do filme é a introdução de Credence e Nagini (Claudia Kim). Sua história é inserida de maneira desajeitada, o que prejudica o desenvolvimento desses personagens. A grande “revelação” sobre Credence, que deveria ser um momento impactante, acaba sendo mais uma curiosidade do que algo realmente surpreendente.
No entanto, o elenco retorna com performances sólidas. Eddie Redmayne, Katherine Waterston, Dan Fogler, Alison Sudol e Zoe Kravitz reencontram seus personagens com facilidade, embora tenham menos espaço para brilhar. Jude Law se destaca como Dumbledore, trazendo o carisma e a confiança que o personagem exige. E para aqueles que temiam a interpretação de Johnny Depp como Grindelwald, há um alívio: Depp entrega uma performance contida e assustadora, sem exageros.
No fim, Os Crimes de Grindelwald cumpre bem o papel de preparar o terreno para os próximos filmes da franquia, mas falha em oferecer uma narrativa que se sustente sozinha. Fãs de Harry Potter certamente apreciarão as conexões e detalhes, mas aqueles que buscam uma história mais fechada e com propósito imediato podem sair um pouco frustrados. Agora, resta esperar pelos próximos capítulos para ver como essa jornada se desenrolará.