Quando falamos dos cuidados de autores com sua propriedade criativa, J.K. Rowling, criadora da franquia Harry Potter, merece todos os elogios. Quando a Warner Bros. pediu que ela expandisse seu mundo mágico, ao invés de apenas criar novas aventuras para o menino que sobreviveu, ela resolveu criar uma saga totalmente nova se passando no mesmo mundo, porém em uma nova era, em outro país e com personagens desconhecidos (pelo menos até aqui).
Isso faz com que Animais Fantásticos e Onde Habitam tenha muito para explorar e introduzir, da mesma forma expositiva e didática que as duas primeiras adaptações de Harry Potter, em 2001 e 2002. Mas graças a capacidade criativa de Rowling e a alguns animais fantásticos incríveis, o filme traz toda a magia do deslumbramento que tínhamos com a franquia original, em seus ótimos últimos filmes.
No longa, o excêntrico magizoologista Newt Scamander (Eddie Redmayne, de A Garota Dinamarquesa) chega à cidade de Nova Iorque levando cuidadosamente sua preciosa maleta, um objeto mágico onde carrega fantásticos animais do mundo mágico que coletou durante suas viagens anteriores. Em meio a comunidade bruxa norte-americana, que teme muito mais a exposição aos trouxas do que os ingleses, Newt precisará usar todas suas habilidades e conhecimentos para capturar uma variedade de criaturas que acabam fugindo.
Scamander logo de cara topa com o trouxa (ou como são chamados nos EUA: Não-Maj) Jacob Kowalski (Dan Fogler). Eles carregam maletas semelhantes e a partir daí você já vai perceber algo que pode dar errado. Enquanto isso, Porpentina Goldstein (Katherine Waterston, de Vício Inerente) vê Newt e suspeita que ele seja uma ameaça à segurança mágica norte-americana. Através dela Newt cruza o caminho do MACUSA, o Congresso Mágico dos Estados Unidos da América, agência local do governo bruxo no país.
Redmayne dá o seu melhor como Newt, que é tão ruim com as pessoas quanto bem-intencionado em suas ações. Mas o estilo do personagem faz dele um pouco inexpressivo em parte do longa. Enquanto isso, seu novo amigo, Jacob, é quem pavimenta nosso caminho para o mundo mágico, como um alívio cômico e com os flertes com Queenie Goldstein (Alison Sudol), a irmã de Porpentina.
Enquanto os líderes do MACUSA perseguem as criaturas fugitivas de Newt e tentam defender as leis contra a confraternização com trouxas (ou “Não-Majs”), o prólogo sombrio do filme já nos alertou sobre o surgimento do mago das trevas Gerardo Grindelwald (Johnny Depp), que será de grande importância nas sequências, com o envolvimento de um certo mago chamado Alvo Dumbledore, muito conhecido dos fãs.
A forma como David Yates (que dirigiu os últimos quatro filmes da franquia) nos apresenta aos personagens adjacentes da trama, como Seraphina Picquery (Carmen Ejogo), Percival Graves (Colin Farrell), Mary Lou Barebone (Samantha Morton) e Credence Barebone (Ezra Miller), faz deles quase mais interessantes do que os protagonistas da trama. Com isso podemos acreditar que os coadjuvantes sempre terão bastante importância nas quatro continuações já anunciadas.
Apesar de todo o deslumbramento que Animais Fantásticos e Onde Habitam proporciona, ainda há alguns problemas estruturais que são perceptíveis. Os diversos animais imaginados por Rowling são muito realistas e bem-desenvolvidos pela equipe de efeitos especiais, mas as numerosas sequências de ação para capturá-las podem se tornar um pouco repetitivas e até cansativas no decorrer da projeção.
O ponto alto, assim como em Harry Potter são as mensagens sobre tolerância por trás da coisa toda. Considerando que a sub-trama romântica de Queenie e Kowalski é de longe o detalhe mais charmoso do filme, há indícios de que Rowling terá mais a dizer sobre o tema dos meio-sangues, e todo o preconceito que atravessa esse tipo de relação, em um futuro muito próximo. Afinal, para a sociedade de hoje, lidar com o diferente é algo que sempre é bom aprender…