O núcleo criativo da DC na Warner parecia ter estabelecido uma visão muito clara do rumo que tomariam para o universo compartilhado dos maiores heróis da casa. Lá em 2013, a confiança depositava em Zack Snyder para comandar O Homem de Aço, deu a segurança para o estúdio investir em projetos mais audaciosos, mesmo com algumas críticas. E foi aí que surgiram outros anúncios de filmes e atores já escalados para embarcar nessa jornada.
Acontece que no meio do caminho muita coisa aconteceu, o estúdio se enrolou com Esquadrão Suicida, que mesmo fazendo um baita sucesso, não se sustentou como um filme coeso. Depois Batman vs. Superman – A Origem da Justiça, que mesmo sendo um belo filme dedicado aos fãs de quadrinhos, não agradou muito os críticos. E depois veio a bomba de Liga da Justiça, que sofreu dos mesmos efeitos de Esquadrão Suicida. Quem ainda se safou de toda essa confusão foi Mulher-Maravilha, que mudou completamente o tom dos filmes da DC.
Agora finalmente chegou a vez de Aquaman, o personagem que gerou muito buzz desde sua primeira aparição, ganha uma aventura solo mais do que merecida. A começar pela escolha de Jason Momoa (isso devemos a Zack Snyder) que empresta essa rusticidade e postura ogra para um personagem que nos quadrinhos tem traços mais finos. Uma abordagem legal para distanciar daquele antigo desenho do Cartoon Network em que o personagem anda num cavalo marinho colorido. Que aliás, é brilhantemente lembrado no longa.
O filme com direção de James Wan, o rei do terror na Warner, que comanda a franquia de Invocação do Mal e já transitou por Velozes e Furiosos da Universal, chega com tudo e mostra bastante do seu trabalho criativo no filme. O visual é realmente um espetáculo debaixo d´água. Os efeitos são diferentes, empolgantes e enchem os olhos. As criaturas marinhas também carregam essa veia do horror que o diretor tem em sua essência e emprestam mais elementos ao filme.
Na trama, inspirada nos quadrinhos dos Novos 52, Arthur Curry, é um cara que reluta em aceitar sua posição como rei de Atântida, mesmo tendo direito a ele. Sua mãe, a rainha Atlanna, brilhantemente interpretada por Nicole Kidman que arrebenta nas cenas de ação, se apaixona por um mortal e desse amor nasce Arthur. Mas seu meio-irmão Orm, interpretado pelo excelente Patrick Wilson, quer travar uma guerra contra a superfície, levando em cheque a decisão de Aquaman em reivindicar o trono. Outra ameaça do filme é o pirata Arraia Negra que ganha uma motivação a mais para se vingar de Aquaman e é um dos personagens que gera uma ambiguidade de sentimentos, mesmo sendo um dos maiores antagonistas do herói, sua motivação gera simpatia.
Quem realmente toma conta da tela desde a primeira cena, é a princesa Mera de Amber Heard, de uma beleza estonteante e carisma sem igual, a heroína protagoniza ótimas cenas de ação e é o fio condutor para a jornada de Arthur para se tornar o rei de Atlântida. Mesmo a química entre o casal não funcionando tão bem, ela ainda assim é aceitável e a gente acaba torcendo por eles. Inclusive, desde o primeiro filme do Homem-Aranha não havia uma cena de beijo tão expressiva como a de Aquaman e Mera.
O roteiro, por sua vez, não lida com nada muito complexo, afinal estamos falando de uma história que mistura origem com um objetivo simples de salvar o mundo. E que no meio do caminho surgem algumas reviravoltas esperadas, mas que não estragam a experiência do filme. A única coisa que incomoda é a tentativa de criar muitos momentos e closes em Jason Momoa na sua primeira cena, insistindo em mostrar que o cara é fortão e badass. De qualquer forma, o filme é o segundo acerto da casa depois de Mulher-Maravilha e entrega uma aventura espetacular, visualmente diferente, com ação e humor na medida. Vida longa ao rei.