O Hobbit: A Desolação de Smaug

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"O Hobbit: A Desolação de Smaug" comprova a teoria de que segundos filmes são os piores de trilogias

Há uma teoria de que nas trilogias – sejam elas de filmes ou livros – a segunda parte é que mais sofre. Normalmente é a sequência morna da primeira parte e apenas uma preparação para o emocionante final. No caso de “O Hobbit: A Desolação de Smaug”, de Peter Jackson, não difere em manter a teoria. O diretor neozelandês, depois da bem sucedida e premiada adaptação da trilogia “O Senhor dos Anéis”, do escritor J.R.R. Tolkien, resolve se arriscar uma década depois, no livro que precede a famosa trilogia.

Na sequência de “O Hobbit: A Jornada Inesperada” (2012), depois de ter sua vida calma – e bem farta de comidas e cachimbos – de hobbit atravessada por Gandalf e um grupo de anões, Bilbo Bolseiro parte para uma aventura em busca de ajudar Thorin “Escudo de Carvalho” a recuperar a Montanha Sagrada (terra dos anões), que foi tomada pelo dragão Smaug “O Magnífico”. Os personagens de Tolkien são carismáticos e Peter Jackson, com o grupo de roteiristas, consegue transpor isso de forma bastante fiel e simpática ao espectador. A Terra Média está recheada de histórias em que a índole dos homens e seres falam muito sobre si próprios e, mesmo com um mundo onde há guerra e ambição, diferentes raças e gêneros conseguem unir suas forças para um bem comum.

Em “A Desolação de Smaug” a aventura toma as proporções mais emocionantes do livro, compreendendo o período de maior clímax, onde tantos fatores atravessam o caminho do grupo que já se duvida se irá conseguir chegar efetivamente onde deve. Para quem acompanhou apenas a versão cinematográfica da trilogia do “Senhor dos Anéis”, muitos elementos e personagens reaparecem mostrando como nasceram no universo da Terra Média. A velocidade de Légolas – observe a cena digna de um game, em que ele ataca um por um dos orcs – o dom das técnicas dos Elfos em manusear uma flecha, ou ainda o primeiro embate entre Gandalf e Sauron, onde Peter Jackson tenta criar ligações mais nítidas entre essa trilogia e a dos anos 2000, recurso já usado em “A Jornada Inesperada”.

“O Hobbit”, publicado em 1937, é um livro infanto juvenil, com apenas 300 páginas (edição de 75 anos, da editora Martins Fontes) que Jackson transformou em três longas de praticamente três horas. Quem conhece o estilo do diretor sabe que ele é perfeccionista, o bastante para evitar qualquer tipo de corte. E não é diferente em “Desolação de Smaug” em que o espectador vai encontrar o trecho mais ativo do livro. Ok, as aventuras estão pelo livro inteiro, Tolkien não fazia muito esforço para tornar uma simples floresta em um lugar com aranhas gigantes, que confabulam sobre as melhores formas de comer anões. No caso do longa, Jackson esticou de forma bem detalhada várias sequências aparentemente simples do livro.

Há quem reclame da proposta comercial de transformar um livro curto em trilogia, mas não acredito que os fãs do universo Tolkien vão sair chateados do cinema. Peter Jackson e a equipe de roteiristas (incluindo outro perfeccionista visual, Guilherme Del Toro) se atem justamente na parte visual descrita. Claro que, analisando por um viés mais narrativo do filme, muitos momentos são “esticados” em demasia, já que teve que se optar em momentos de maior ação para tivessem maior duração, tornando muitos momentos do filme um tanto vazios de conteúdo.

A equipe de atores continua sendo a ótima escalada para o primeiro longa, sempre destaque para Ian McKellen (Gandalf), Martin Freeman (Bilbo), o retorno de Orlando Bloom (Légolas) e dessa vez a inserção da personagem Tauriel – que não existe no livro – interpretada por Evangeline Lilly, que é mais um elemento de expansão do enredo original e segundo Peter Jackson, uma necessidade de maior aparição de personagens femininos na trama.

Não há muito o que se possa dizer sobre o veterano Howard Shore e seu trabalho com a trilha sonora, ele simplesmente sabe ambientar muito bem qualquer tipo de cena. A música tema do longa “I See Fire” – que só aparece no final – descreve bastante do que se trata essa segunda parte da trilogia de “O Hobbit”, proposta por Peter Jackson. “A Desolação de Smaug” é a firmação da aliança feita entre todos os membros do pequeno grupo formado de anões, hobbit e Gandalf. Somente juntos – e o conceito de amizade e união são sempre fatores fundamentais nos enredos de Tolkien – eles podem tomar a Montanha Sagrada, combater Smaug e ainda criar laços entre os povos da Terra Média, pois sabemos que num futuro não muito distante esses laços serão fundamentais.

“O Hobbit: A Desolação de Smaug” talvez comprove a teoria das trilogias, tendo seu ápice em cenas de ação com estética típica da equipe de Peter Jackson, mas sem maiores aprofundamentos de conteúdo. Lembrando que a trilogia é uma adaptação – e isso não requer fidelidade – o fã do universo da Terra Média bem provavelmente não irá se desapontar pelas quase três horas de longa. No mais, guarde os pés peludos novamente, pois ano que vem teremos a terceira parte da empreitada para tirar Smaug da Montanha Sagrada. E isso ainda requer muita ação.

Conheça os demais filmes da franquia

Clique nos pôsteres para ler nossa crítica sobre o filme.

O SENHOR DOS ANÉIS: A SOCIEDADE DO ANEL
(2001)

O SENHOR DOS ANÉIS: AS DUAS TORRES
(2002)

O SENHOR DOS ANÉIS: O RETORNO DO REI
(2003)

O HOBBIT: UMA JORNADA INESPERADA
(2012)

O HOBBIT: A DESOLAÇÃO DE SMAUG
(2013)

O HOBBIT: A BATALHA DOS CINCO EXÉRCITOS
(2014)