Ratatouille é mais uma obra-prima da Pixar que prova que a animação pode ser tanto uma forma de arte visual quanto uma maneira de explorar temas profundos e complexos. Neste filme, acompanhamos Remy, um rato que sonha em ser chef em uma das mais prestigiadas cozinhas de Paris. Sua jornada é uma mistura de superação, amizade e a luta contra preconceitos, tudo embalado em uma trama envolvente e visualmente deslumbrante.
O filme desafia as convenções desde o início, ao colocar um rato como protagonista em um ambiente onde ele é o ser mais desprezado. Ratatouille não é apenas sobre um roedor com talento culinário, mas sim sobre seguir seus sonhos, não importando as barreiras impostas pela sociedade. Remy é um personagem cativante porque representa a ambição de superar os limites de sua própria espécie, e isso ressoa com qualquer pessoa que já se sentiu subestimada.

A animação é simplesmente deslumbrante, elevando o padrão visual das produções da Pixar para um novo patamar. As cenas que mostram Paris são ricas em detalhes, e o realismo da cozinha do restaurante Gusteau é impressionante. Uma das sequências mais memoráveis é a perseguição pelas ruas de Paris, onde a fluidez da animação torna cada movimento incrivelmente realista, quase como se estivéssemos assistindo a uma filmagem ao vivo.
O enredo de Ratatouille é muito mais do que uma simples história de aventura. Ele aborda temas como o preconceito e a aceitação, mostrando como o relacionamento entre humanos e ratos pode ser uma metáfora para diversas formas de discriminação. A conexão entre Remy e Linguini, o jovem humano que ele ajuda a se tornar chef, é semelhante à de Cyrano de Bergerac, onde o talento de um é mascarado pela presença do outro. Essa dinâmica adiciona uma camada extra de profundidade ao filme, que certamente passa despercebida pelas crianças, mas enriquece a experiência dos adultos.
A escolha do elenco de vozes é impecável, com destaque para Peter O’Toole, que dá vida ao temível crítico gastronômico Anton Ego. Sua performance é sombria e ameaçadora, mas também traz uma profundidade emocional que torna seu personagem inesquecível. O monólogo de Ego sobre o papel do crítico é uma das cenas mais impactantes do filme e serve como uma reflexão sobre a crítica em geral, indo além do mundo da gastronomia.

Outro aspecto fascinante de Ratatouille é como o filme celebra o amor pela comida. Embora o enredo principal não seja sobre a gastronomia em si, a paixão de Remy pela culinária é contagiante. Cada prato apresentado no filme é tratado como uma obra de arte, e a atenção aos detalhes na preparação dos alimentos faz com que os espectadores quase possam sentir o aroma e o sabor das receitas que Remy cria.
Com uma duração próxima de duas horas, Ratatouille exige mais atenção do que a maioria dos filmes de animação. No entanto, aqueles que se permitem mergulhar na história serão recompensados com uma experiência cinematográfica rica e gratificante. As melhores e mais impressionantes cenas estão reservadas para a segunda metade do filme, incluindo a icônica invasão dos ratos à cozinha, que é ao mesmo tempo caótica e visualmente encantadora.
Em um período em que o mercado de animação está saturado com produções que visam apenas o entretenimento rápido, Ratatouille surge como uma obra que não só diverte, mas também inspira. Para pais que desejam assistir a um filme significativo com seus filhos ou para adultos que buscam uma história leve, porém com substância, Ratatouille é a escolha perfeita para um banquete cinematográfico.
































