Pixar mais uma vez prova sua habilidade de tocar o coração do público com Viva: A Vida é uma Festa. Embora não seja a obra-prima absoluta do estúdio, o filme chega muito perto do topo, destacando-se como um dos melhores filmes de animação de 2017. Em um ano marcado por ofertas mais comerciais e menos inspiradoras, como Carros 3, Viva se destaca por trazer uma narrativa rica em cultura e emoção, lembrando-nos que quando a Pixar não está presa às amarras das continuações, é capaz de criar algo verdadeiramente especial.
Através da celebração do Dia dos Mortos, Viva mergulha profundamente na cultura mexicana, oferecendo uma visão encantadora e respeitosa desse feriado. Comparações com Festa no Céu, de Guillermo del Toro, são inevitáveis, mas enquanto ambos os filmes compartilham algumas semelhanças visuais, suas histórias são bastante distintas. Viva parece se inspirar mais em Ratatouille e A Viagem de Chihiro do que no filme de del Toro, criando uma jornada única e comovente para seu jovem protagonista.
A direção de Lee Unkrich, veterano de sucessos como Monstros S.A. e Procurando Nemo, traz ao filme a maestria de quem sabe equilibrar temas infantis e maduros. Unkrich, que também dirigiu Toy Story 3, mais uma vez demonstra sua habilidade em criar filmes que funcionam em dois níveis – agradando tanto crianças quanto adultos. Embora Viva não atinja o mesmo impacto emocional de Toy Story 3, é um filme que certamente vai engajar e emocionar espectadores de todas as idades.
A história segue Miguel, um garoto que desafia a proibição familiar de música, imposta por sua tataravó, Mama Imelda. Inspirado por seu ídolo Ernesto de la Cruz, Miguel embarca em uma jornada que o leva acidentalmente à Terra dos Mortos, onde ele conhece seus antepassados e descobre verdades profundas sobre sua família. A narrativa se desenrola de forma encantadora, explorando a importância das tradições e do legado familiar, ao mesmo tempo que Miguel busca a realização de seu sonho.
Embora as músicas de Viva não sejam memoráveis, o filme acerta em muitos outros aspectos. Miguel é um protagonista cativante, e seu companheiro canino, Dante, proporciona momentos de leveza e humor. O vilão, Ernesto de la Cruz, é suficientemente detestável para impulsionar a trama, enquanto o coração da história – a conexão familiar – é tratado com a delicadeza necessária para tocar até mesmo os corações mais endurecidos.
Visualmente, Viva não tenta superar todos os outros filmes da Pixar, mas ainda assim, entrega cenas deslumbrantes, como a visão panorâmica da Terra dos Mortos. O foco aqui está menos na superação técnica e mais na imersão cultural. A rica representação da cultura mexicana, com suas cores vibrantes e tradições autênticas, eleva o filme a um patamar diferenciado.
O tema da família, recorrente nas produções da Disney, é o centro da narrativa de Viva. A busca de Miguel por suas raízes, a conexão de Hector com sua filha e o vínculo que se forma entre eles são o coração pulsante da trama. O filme também aborda a morte de maneira acessível para os jovens, mostrando-a não como um fim assustador, mas como uma transição natural e, em muitos aspectos, bela.
Viva: A Vida é uma Festa é um exemplo de como a animação pode ser uma plataforma poderosa para a expressão criativa. Em seus melhores momentos, Pixar entregou filmes que abriram novos horizontes, algo que tem sido menos comum nos últimos anos devido a pressões comerciais. Mesmo que Viva não seja um sucesso de bilheteria, ele é um retorno bem-vindo ao tipo de animação que valoriza a inspiração acima da segurança.