Carros 2 marca um ponto curioso na trajetória da Pixar. Depois do sucesso mediano do primeiro Carros, a decisão de fazer uma sequência foi, para muitos, inesperada. O primeiro filme, embora possuísse charme, estava longe de ser o melhor trabalho do estúdio, e a ausência de Paul Newman (Doc Hudson) nesta sequência é sentida profundamente, deixando um vazio emocional difícil de preencher. O resultado é um filme que, apesar de visualmente deslumbrante, falha em capturar a magia que fez da Pixar um nome tão respeitado na animação.
Diferente de seu antecessor, Carros 2 tenta seguir um novo rumo ao dar destaque ao personagem Mate, o simpático caminhão guincho. O filme transforma-se em uma mistura de comédia e espionagem, com uma trama que envolve dois novos personagens, os espiões britânicos Finn McMíssil e Holly Caixadibrita. Relâmpago McQueen, embora presente, assume um papel secundário, servindo mais como uma ponte para explorar a amizade com Mate do que como protagonista.
A narrativa leva Relâmpago McQueen e Mate ao Grand Prix Mundial, uma corrida global que passa por países como Japão, Itália e Inglaterra. No entanto, o foco rapidamente se desvia da corrida para as intrigas de espionagem que ocorrem nos bastidores. Mate, erroneamente identificado como um espião americano, acaba envolvido em uma missão para salvar o mundo, o que resulta em situações cômicas, mas também em uma sensação de que o filme está forçando a barra para gerar emoção.
Apesar da tentativa de inovar, Carros 2 não consegue se livrar da sensação de déjà vu. As referências a filmes de espionagem, especialmente da franquia James Bond, são abundantes, mas raramente elevam o filme além de um pastiche. As cenas de ação, embora abundantes, carecem de impacto, e o humor muitas vezes cai em paródias que não conseguem capturar o brilho dos melhores momentos cômicos da Pixar.
Visualmente, a Pixar não decepciona. As animações são ricas em detalhes, com as cidades do mundo representadas de forma vibrante e cheia de vida. No entanto, o uso do 3-D se mostra desnecessário, quase irrelevante, adicionando pouco à experiência geral. A animação, por si só, já é suficientemente cativante, e a “terceira dimensão” acaba sendo mais uma distração do que um aprimoramento.
Os dubladores principais retornam, exceto por Paul Newman, e entregam performances consistentes, mas sem o mesmo entusiasmo do primeiro filme. Owen Wilson, como Relâmpago McQueen, parece menos envolvente, enquanto Michael Caine faz um bom trabalho como o espião Finn McMíssil. No entanto, fica a curiosidade de como seria se um dos ex-Bonds tivesse assumido o papel, adicionando uma camada extra de charme britânico.
Talvez o maior problema de Carros 2 seja a falta da sofisticação que normalmente caracteriza os filmes da Pixar. Embora o filme tente explorar a questão do uso de combustíveis fósseis, a execução é superficial e não consegue capturar a atenção do público adulto. As crianças, sem dúvida, apreciarão as cores e a ação, mas os adultos podem se sentir decepcionados com a ausência de um subtexto mais profundo que normalmente eleva os filmes da Pixar a um nível superior.
Para as famílias que buscam entretenimento que agrade a todas as idades, Carros 2 oferece uma experiência mediana, sem grandes surpresas. É um filme que cumpre o que promete, mas sem o brilho e a inovação que esperamos da Pixar. Ele serve mais como uma oportunidade de conexão entre pais e filhos do que como uma obra-prima cinematográfica.
Um detalhe interessante é o curta-metragem de Toy Story que precede Carros 2. Com cerca de sete minutos de duração, ele reintroduz personagens queridos como Woody e Buzz, embora falte o charme característico dos curtas da Pixar. Curiosamente, este breve momento com os personagens de Toy Story acaba sendo mais memorável do que o próprio Carros 2.