Depois de uma trajetória marcada por sucessos e desafios, Carros 3 surge como uma despedida digna para Relâmpago McQueen, o icônico carro de corrida da Pixar. Embora não alcance as mesmas alturas emocionais de outros clássicos do estúdio, como Toy Story 3, esta terceira entrada na franquia Carros oferece uma reflexão madura sobre envelhecimento, mudança e a aceitação do próprio lugar no mundo, temas que certamente ressoarão com o público mais adulto.
O retorno ao legado de Doc Hudson é um dos pontos altos de Carros 3. A presença de Paul Newman, mesmo que postumamente, é sentida de forma poderosa através de gravações reutilizadas e novas animações, o que confere ao filme uma camada emocional que estava ausente em Carros 2. A forma como a memória de Doc é entrelaçada com a jornada de McQueen não apenas honra o personagem, mas também serve como uma homenagem ao próprio Newman.
Em contraste com o enfoque comercial que marcou Carros 2, Carros 3 retorna às raízes, buscando inspiração na série Toy Story ao invés de seu antecessor imediato. Embora o filme tenha a intenção de fazer uma declaração profunda sobre a aceitação das mudanças que acompanham o envelhecimento, ele falha em atingir o impacto emocional que Toy Story 3 conseguiu. No entanto, a tentativa de capturar essa essência já é um progresso significativo para a franquia.
Apesar de ser revigorante ver Carros 3 com uma proposta que vai além de apenas vender brinquedos, o filme ainda dedica tempo demais às corridas. A paixão dos cineastas pelo esporte é evidente, mas o excesso de sequências de corrida, por mais bem renderizadas que sejam, acaba tornando a experiência um pouco cansativa. O entusiasmo que a Pixar tem pelo automobilismo, infelizmente, não se traduz em emoção para o espectador, especialmente para o público infantil, que pode perder o interesse durante as longas sequências.
O filme começa com McQueen dominando as pistas, até que sua hegemonia é desafiada pela chegada de Jackson Storm, um carro de nova geração, mais rápido e tecnologicamente avançado. Após um acidente grave, McQueen percebe que precisa tentar algo novo para continuar competitivo. Com a ajuda de Cruz Ramirez, uma treinadora dedicada, e guiado pelo legado de Doc Hudson, McQueen embarca em uma jornada de autodescoberta e aceitação.
No elenco de vozes, Owen Wilson retorna como McQueen, enquanto Cristela Alonzo e Armie Hammer se destacam como Cruz Ramirez e Jackson Storm, respectivamente. O filme também traz de volta personagens queridos dos filmes anteriores, como Sally e Mater, embora em papéis menores. A presença de Doc Hudson, ainda que em flashbacks e sonhos, é particularmente comovente, graças ao uso sensível da voz de Paul Newman.
Com John Lasseter afastado da direção, Brian Fee, veterano da Pixar, assume o comando em sua estreia como diretor. Como era de se esperar, os visuais de Carros 3 são impressionantes. Cada detalhe, desde os reflexos em poças d’água até as texturas dos carros, é executado com a precisão que se tornou marca registrada da Pixar. Ainda que o enredo não alcance o mesmo nível de excelência, a estética do filme certamente mantém o alto padrão do estúdio.
Carros 3 é precedido por “Lou”, um curta de sete minutos que aborda o tema do bullying em um ambiente escolar. Embora não seja um dos melhores curtas da Pixar, ele serve como uma adição agradável ao tempo total de exibição, mesmo que não seja particularmente memorável.
A comparação entre Toy Story 3 e Carros 3 é inevitável, mas também injusta. Enquanto o primeiro se consolidou como um clássico atemporal capaz de tocar profundamente todos os espectadores, o segundo, embora bem feito, carece de algo a mais para se elevar a esse patamar. No entanto, em comparação com seus antecessores, Carros 3 é, sem dúvida, o melhor da trilogia, trazendo uma conclusão satisfatória para a jornada de McQueen e dissipando, ao menos em parte, as preocupações de que a franquia poderia estar se arrastando por voltas desnecessárias.