Toy Story é um marco na história da animação, não apenas por ser o primeiro longa-metragem feito inteiramente por computação gráfica, mas por apresentar uma narrativa envolvente que ressoou com públicos de todas as idades. O filme nos transporta para um universo mágico onde os brinquedos ganham vida quando não há humanos por perto, trazendo à tona aquela velha dúvida: o que realmente acontece com os brinquedos quando não estamos olhando?
Visualmente, o filme foi revolucionário para sua época. A qualidade da animação computadorizada, cheia de detalhes surpreendentes, é de cair o queixo. Desde os reflexos em superfícies polidas até as pequenas imperfeições como digitais e tinta descascada, o cuidado com cada aspecto visual do filme impressiona até hoje. Mas, além de ser um espetáculo para os olhos, o filme também é um deleite para a mente, com personagens carismáticos, diálogos inteligentes e uma história cativante.
A trama gira em torno de Woody, um caubói clássico e brinquedo favorito de Andy, e Buzz Lightyear, um patrulheiro espacial moderno que chega para abalar as estruturas do mundo de Woody. O ciúme que Woody sente ao ver Buzz roubando seu lugar no coração de Andy é o ponto de partida para uma jornada emocionante que reforça a importância da amizade e da cooperação. Embora o roteiro não seja uma obra de extrema originalidade, ele é suficientemente envolvente para prender a atenção e proporcionar uma diversão leve e agradável, sem jamais se tornar bobo ou excessivamente sentimental.
Os personagens principais são incrivelmente bem definidos. Woody, dublado por Tom Hanks, é o líder carismático que se vê ameaçado pela chegada do novato Buzz, cuja voz é emprestada por Tim Allen. Ao longo do filme, ambos os personagens passam por um processo de autodescoberta que os torna não apenas mais próximos, mas também mais humanos. O elenco de apoio é igualmente memorável, com destaques para o Sr. Cabeça de Batata, o dinossauro Rex, o porquinho-cofre Porquinho e o cachorrinho de mola Slinky, todos trazendo momentos de humor e emoção à narrativa.
Uma das escolhas mais interessantes de Toy Story foi a decisão de representar os humanos de maneira propositalmente artificial. Enquanto os brinquedos são vívidos e cheios de personalidade, as pessoas aparecem de forma mais plana e sem vida. Essa escolha reflete uma das convenções clássicas da animação e reforça a ideia de que, no universo de Toy Story, os brinquedos são os verdadeiros protagonistas.
A chegada de Buzz é o catalisador para a aventura. Woody, inseguro sobre sua posição, tenta se livrar de Buzz, mas acaba provocando uma série de eventos que os leva ao mundo real, onde são forçados a trabalhar juntos para escapar de situações perigosas, incluindo a ameaça de um garoto que adora torturar brinquedos. Essa parceria improvável é o cerne do filme, e a dinâmica entre Woody e Buzz é cativante, misturando humor e tensão de maneira magistral.
Comparar Toy Story com as animações tradicionais da Disney é um desafio, pois são produções muito distintas. Enquanto os clássicos da Disney se destacam pela arte e pela música, Toy Story brilha pela inovação tecnológica e pelo humor inteligente. Apesar de contar com algumas músicas de Randy Newman, o filme não é exatamente um musical, o que o distancia ainda mais das convenções das animações da época.
Um dos poucos pontos negativos de Toy Story é o excesso de comercialização que acompanhou seu lançamento. Não demorou para que as prateleiras fossem inundadas por bonecos de Woody e Buzz, e as promoções em fast food e outros produtos licenciados se tornaram onipresentes. Essa exploração mercadológica, embora compreensível, corre o risco de cansar o público, especialmente os adultos que podem se sentir saturados pela quantidade de propaganda.
No entanto, antes que essa avalanche de marketing ofuscasse a essência do filme, é importante lembrar que Toy Story é, em sua essência, uma celebração da imaginação e da amizade. É um filme que, mesmo após anos de seu lançamento, continua a encantar e emocionar, deixando um legado duradouro na história do cinema.