Diamantes podem ser eternos, mas a licença para matar sempre pode expirar. Daniel Craig não é o James Bond mais longevo, mas sem dúvida é o primeiro que ganha o adeus mais justo na história da franquia. Mas 007 – Sem Tempo Para Morrer não é apenas isso, ele tem todas as características clássicas dos filmes da franquia: locais exóticos, cenários exuberantes, um vilão caricato com um plano covarde e improvavelmente complicado que apenas um superagente no mundo pode desfazer.
O que também sobressai aqui, em meio a todas as taças de martini e tiroteios, é algo menos familiar na série: um sopro nada Bondiano de mortalidade. Imagine um James Bond abalado pela ideia de sua própria impermanência – e até mesmo irrelevância. Será que o número de 007 finalmente aumentou? Na verdade, ele já foi transferido após sua aposentadoria voluntária – para uma jovem negra, interpretada com estilo impetuoso por Lashana Lynch (Capitã Marvel) – mas não haveria muito filme se algo não tirasse James de sua vida pós-MI6.
Essa causa tem a ver com o retorno do vilão de 007 Contra Spectre Ernst Blofeld (Christoph Waltz), e uma arma biológica roubada cujo efeito potencial na raça humana seria, para dizer o mínimo, cataclísmico. Ele sai da aposentadoria a pedideo de um velho amigo, o oficial da CIA Felix Leiter (Jeffrey Wright), que o leva de volta para sua antiga equipe em Londres: M (Ralph Fiennes), Moneypenny (Naomie Harris) e Q (Ben Whishaw).
Há novos rostos também: Ana de Armas (Entre Facas e Segredos) aparece, cheia de glamour, como uma agente novata em uma sequência ambientada em Cuba; Billy Magnussen (Aladdin) aparece como um recruta da CIA com uma admiração digna de fanboy por James. E, claro, há o nêmesis que nos foi prometido – Rami Malek (Bohemian Rhapsody) como Lyutsifer Safin, um fantasma pálido cuja cicatriz facial estranha mostra alguns danos irreparáveis que ele sem dúvida planeja vingar.
O diretor Cary Joji Fukunaga (Beasts of No Nation) é sangue fresco para a franquia também. Surpreendentemente, as mulheres na tela – tão incomum e lindas como todas tendem a ser – parecem mais seres humanos reais do que cenário aqui, e até mesmo James as trata de acordo. Durante a primeira hora, pelo menos, a série parece revivida: ainda cheia da intriga internacional e dispositivos elaborados que dão a Bond a arrogância brilhante que sempre teve, mas agora arrastada para uma era reconhecidamente moderna.
Mas nem tudo que reluz, é ouro, infelizmente. Conforme o filme completa sua segunda hora e avança para a terceira, a fadiga da batalha se instala, e também um certo tipo de tédio que não estraga a experiência, mas podia ser diminuído com uma duração mais curta. A leviandade da primeira metade logo faz muita falta, e apenas a duração dilui a ressonância emocional pretendida das cenas finais.
Ainda assim, no que diz respeito à despedida de Daniel Craig como Bond, é uma despedida afetuosa: unindo fielmente o velho e o novo mundo até o último minuto grandioso de filme.