Com 007 Viva e Deixe Morrer marca a primeira aparição de Roger Moore no papel de James Bond, substituindo Sean Connery após seis filmes icônicos (e um menos marcante com George Lazenby). A transição para um Bond mais sarcástico e descontraído foi difícil de aceitar para muitos fãs, e o próprio filme não ajuda muito. Com uma trama mal alinhada e repleta de elementos exagerados, a estreia de Moore não faz jus ao legado deixado por Connery. O único elemento que realmente resistiu ao tempo foi a música-tema, composta por Paul e Linda McCartney, e interpretada pela banda Wings.
O enredo de Com 007 Viva e Deixe Morrer se desvia do habitual confronto com a SPECTRE ou ameaças globais, colocando Bond contra um vilão mais local: Dr. Kananga (Yaphet Kotto), o governante de uma pequena ilha caribenha e um fornecedor de heroína que planeja monopolizar o mercado. A trama se desenrola após a morte de três agentes britânicos, levando Bond a investigar uma teia de conspirações que o leva do Harlem aos pântanos da Louisiana, cruzando seu caminho com personagens inusitados, como a misteriosa sacerdotisa do tarô Solitaire (Jane Seymour) e o excêntrico Mr. Big, entre outros.
Comparado aos filmes anteriores, essa aventura de 007 parece deslocada. Sem o peso das ameaças nucleares e megalomaníacas, o filme carece da tensão que tornou os primeiros filmes tão empolgantes. Moore ainda estava encontrando seu tom como Bond, e em muitos momentos parece tentar emular Connery, o que pode ser mais culpa do roteiro do que do próprio ator. Ainda assim, Moore, com seu carisma natural, entrega um Bond minimamente agradável, mas sem a intensidade necessária que marcou os melhores momentos de seus antecessores.
Um dos aspectos mais notáveis do filme é o quão datado ele parece. Desde as roupas e penteados até a trilha sonora, Com 007 Viva e Deixe Morrer está enraizado nos anos 1970, de uma forma que outros filmes de Bond conseguiram evitar. A ausência de John Barry na trilha, substituído por George Martin, adiciona uma atmosfera que nunca se encaixa perfeitamente com o tom usual de Bond. Essa foi a primeira vez que Barry não esteve diretamente envolvido em um filme de 007, e a diferença é sentida.
Como muitos filmes de Bond, esse também sofre com o problema da duração excessiva. Uma das sequências mais problemáticas é a longa perseguição de barco, que, além de ser mal executada, parece se arrastar eternamente. Para piorar, as inserções cômicas do xerife J.W. Pepper (Clifton James), que volta em 007 Contra o Homem com a Pistola de Ouro, destoam completamente do tom da série. O personagem, com sua abordagem exagerada e caricata, se sentiria mais em casa em uma comédia pastelão do que em um filme de James Bond.
Em termos de ação, Com 007 Viva e Deixe Morrer entrega algumas boas cenas e, claro, mulheres interessantes para Bond conquistar. Jane Seymour, em seu primeiro grande papel no cinema, brilha como Solitaire, trazendo um toque místico à trama. No entanto, mesmo com as cenas de ação bem coreografadas e o charme de Moore, o filme não consegue alcançar a tensão e energia dos filmes anteriores, deixando uma sensação de que algo está faltando.
Embora o filme tenha seus momentos e ofereça entretenimento suficiente para os fãs mais fervorosos de Bond, ele está longe de ser essencial. A ausência de Connery pesa sobre a produção, e a busca de Moore por seu próprio estilo ainda estava em curso. Para aqueles curiosos sobre a estreia de Moore no papel, Com 007 Viva e Deixe Morrer pode valer a pena, mas não há urgência em revisitá-lo a menos que se esteja realmente interessado na transição dos atores.
No final das contas, a estreia de Moore como 007 foi irregular, mas ele eventualmente encontraria seu próprio estilo nos filmes subsequentes. Mesmo que Com 007 Viva e Deixe Morrer não esteja entre os melhores da série, ele ainda ocupa um lugar importante na evolução do personagem e do próprio Roger Moore como James Bond.