007 Contra Goldeneye marca um novo capítulo na longa trajetória de James Bond, trazendo Pierce Brosnan como o espião britânico pela primeira vez após um longo hiato. A década de 1990 exigia mudanças, e o filme tenta se adaptar a essa nova era, introduzindo uma série de atualizações. Além de um novo Bond, o filme traz um BMW no lugar do tradicional Aston Martin, e Judi Dench assume o papel de M, tornando-se a primeira mulher a comandar o MI6. Essas mudanças foram uma tentativa de modernizar o espião mais famoso do cinema sem perder sua essência.
Pierce Brosnan, em sua estreia como James Bond, entrega um desempenho que equilibra o charme e a sagacidade que se espera do personagem. Sua abordagem é um alívio em relação ao tom mais sério e sombrio de Timothy Dalton. Ele retoma a leveza característica do espião, trazendo um toque de humor que remete aos melhores momentos de Roger Moore, mas sem a exagerada futilidade que por vezes marcou a fase anterior. Embora Brosnan não alcance o nível icônico de Sean Connery, ele revitaliza a franquia com uma performance envolvente e carismática.
O enredo de 007 Contra Goldeneye não foge muito do padrão clássico da série, combinando elementos já familiares. A trama gira em torno de uma arma espacial chamada Goldeneye, capaz de desativar todos os sistemas eletrônicos de uma área atingida por seu pulso eletromagnético. Nas mãos erradas, essa arma representa uma ameaça global. Cabe a Bond impedir que essa tecnologia seja usada para atacar Londres, enfrentando um vilão com sede de vingança e megalomania, além de cruzar caminhos com antigos aliados e perigosos inimigos.
Entre os destaques do elenco de apoio estão personagens como Natalya Simonova (Izabella Scorupco), uma programadora de computadores que se torna aliada de Bond, e Alec Trevelyan (Sean Bean), um ex-parceiro de Bond que agora busca vingança. Famke Janssen também brilha como a vilanesca Xenia Onatopp, cuja marca registrada é sua letalidade física, esmagando suas vítimas entre as pernas em uma das representações mais memoráveis de femme fatale da série. Cada um dos personagens secundários contribui de forma significativa para o desenvolvimento da trama, mas, no final, o foco está sempre no novo Bond de Brosnan.
A ação mantém o nível exagerado que se espera de um filme de James Bond. As acrobacias e perseguições estão num nível adequado de absurdo, garantindo o entretenimento que os fãs da série adoram. No entanto, alguns dos efeitos especiais podem parecer um tanto datados para os padrões atuais, o que pode atrapalhar a imersão em certas cenas. Ainda assim, essas falhas são fáceis de ignorar, especialmente para aqueles dispostos a suspender a descrença e apenas aproveitar a aventura.
O filme também introduz novos elementos tecnológicos, com a música-tema e a trilha sonora assinada por Eric Serra trazendo um toque moderno ao som característico da franquia. Ainda que o famoso tema de Bond continue presente, a nova trilha adiciona uma vibe eletrônica que reflete a tentativa de atualizar o personagem para o público dos anos 1990. No entanto, essa mudança não foi unanimemente bem recebida, e alguns fãs mais antigos podem sentir falta do estilo clássico da trilha.
Em termos de narrativa, 007 Contra Goldeneye se estende um pouco além do necessário. Com 130 minutos de duração, o filme poderia ter sido um pouco mais enxuto, eliminando alguns momentos que não acrescentam à trama principal. A sensação de que há certo excesso de “gordura” no roteiro é difícil de ignorar, mas a performance de Brosnan e as cenas de ação compensam em grande parte essa sensação de arrastamento.
Comparado a longas anteriores da franquia, 007 Contra Goldeneye consegue equilibrar a seriedade e o humor de maneira eficaz, sem cair na frivolidade de filmes anteriores como 007 Contra o Homem com a Pistola de Ouro. Para muitos fãs, este é o melhor filme da série desde 007 – O Espião que me Amava, conseguindo capturar a essência do que faz de James Bond um heroi icônico enquanto o adapta para os tempos modernos.
Em última análise, 007 Contra Goldeneye é um retorno bem-sucedido para o agente secreto mais famoso do cinema, com Brosnan demonstrando ser uma escolha sólida para revitalizar a franquia. Embora o filme tenha alguns tropeços, especialmente com seu ritmo prolongado, ele reintroduz Bond para uma nova geração de fãs e coloca a série de volta nos trilhos, abrindo caminho para aventuras futuras ainda mais grandiosas.