Demolidor: O Homem Sem Medo tem a ambição de trazer à vida o vigilante cego de Hell’s Kitchen, mas acabou entregando um produto que, embora tenha seus momentos, sofre com uma narrativa fragmentada e personagens pouco desenvolvidos. Dirigido por Mark Steven Johnson e estrelado por Ben Affleck no papel de Matt Murdock, o filme tenta capturar a essência sombria dos quadrinhos, mas falha em vários aspectos cruciais.
A história começa com um jovem Matt Murdock (interpretado por Scott Terra na infância e Ben Affleck na fase adulta) que, após um acidente com produtos químicos, perde a visão, mas ganha sentidos super aguçados e uma espécie de radar mental. Quando adulto, Matt divide seu tempo entre ser um advogado dedicado durante o dia e um vigilante noturno que combate o crime com o codinome Demolidor. Seu principal antagonista é o Rei do Crime (Michael Clarke Duncan), que contrata o assassino irlandês Mercenário (Colin Farrell) para eliminá-lo.
A escolha de estrear o filme em fevereiro, longe da competição dos grandes blockbusters de verão, revela uma percepção de que Demolidor não teria a mesma força que outros titãs da Marvel como Homem-Aranha e X-Men. Essa decisão parece acertada, pois o filme, embora não seja terrível, não possui a mesma qualidade ou impacto dos outros longas. A narrativa é truncada, com várias partes importantes aparentando terem sido deixadas na sala de edição, resultando em uma história que às vezes parece desarticulada e incompleta.
O cenário de Hell’s Kitchen é bem estabelecido com uma estética sombria, que lembra as versões cinematográficas do Batman de Tim Burton. A atmosfera noturna e opressiva funciona bem para o personagem, mas o filme depende demais desses elementos visuais, muitas vezes à custa do desenvolvimento dos personagens. Matt Murdock, apesar das tentativas do roteiro de torná-lo complexo e introspectivo, nunca atinge a profundidade necessária para que o público se importe verdadeiramente com ele.
As cenas de ação são um dos pontos altos do filme, com coreografias que desafiam a lógica e as leis da física, típicas dos quadrinhos. No entanto, a batalha final entre Demolidor e o Rei do Crime é anticlimática, faltando a tensão e a grandiosidade esperadas. Curiosamente, a melhor sequência de luta é a “brincadeira” entre Demolidor e Elektra (Jennifer Garner), que, em vez de ser uma cena romântica típica, transforma-se em uma exibição atlética e competitiva.
Ben Affleck, embora esforçado, não consegue se destacar como um herói de ação convincente. Sua interpretação de Matt/Demolidor é aceitável, mas falta carisma e presença. Jennifer Garner, por outro lado, traz energia e espírito à sua Elektra, embora seu personagem também sofra com um desenvolvimento superficial. Michael Clarke Duncan diverte-se em seu papel exagerado como o Rei do Crime, e Colin Farrell oferece uma performance memorável e exagerada como Mercenário, embora muitas vezes pareça mais uma caricatura do que um vilão ameaçador.
O filme tenta explorar a moralidade e os dilemas internos de Matt, especialmente através de suas visitas frequentes à confissão e suas reflexões sobre fazer a diferença. No entanto, esses elementos parecem mais adereços do que motivações reais, deixando o personagem central bidimensional e menos envolvente do que deveria ser.
Em resumo, Demolidor: O Homem Sem Medo é uma adição mediana ao universo dos filmes de super-herois. Ele oferece entretenimento descartável e algumas boas sequências de ação, mas falha em capturar a profundidade e complexidade do personagem título. Para os fãs dos quadrinhos, pode haver frustração com as liberdades criativas e a falta de fidelidade ao material original. Para o público em geral, é um filme que entretém, mas não impressiona. Esperamos que futuras adaptações possam fazer mais jus ao potencial rico e fascinante do Demolidor.