Doutor Estranho no Multiverso da Loucura promete uma exploração audaciosa do multiverso da Marvel, mas acaba entregando uma narrativa que parece fragmentada e apressada. Após os eventos de Vingadores: Ultimato, Stephen Strange (Benedict Cumberbatch) e Wong (Benedict Wong) continuam suas pesquisas sobre a Joia do Tempo, apenas para se depararem com uma nova ameaça que coloca todo o multiverso em risco.

A introdução de novos personagens como America Chavez (Xochitl Gomez) traz um frescor à trama, com sua habilidade de viajar entre universos. No entanto, a falta de controle sobre seus poderes a coloca no centro de uma caçada que leva Strange a buscar a ajuda de Wanda Maximoff (Elizabeth Olsen), apenas para descobrir que ela é a responsável pelos ataques. A motivação de Wanda, que deseja uma vida ideal com seus filhos imaginários de WandaVision, é interessante, mas não é explorada com a profundidade necessária para justificar suas ações extremas.

Visualmente, Doutor Estranho no Multiverso da Loucura é um espetáculo. As sequências de ação são grandiosas e os efeitos especiais impressionantes, com momentos que remetem ao primeiro Doutor Estranho e a filmes como A Origem de Christopher Nolan. No entanto, essas cenas muitas vezes distraem das falhas na narrativa, que parece ter sido montada a partir de um roteiro incompleto. A falta de coesão é evidente, e a trama se desenvolve de maneira confusa, sem um final satisfatório.

A direção de Sam Raimi, conhecido por seu trabalho em filmes de terror como Evil Dead e a trilogia do Homem-Aranha, traz uma estética única ao filme, mas também contribui para a sensação de desorientação. A tentativa de equilibrar o horror com os elementos tradicionais de super-heroi resulta em um filme que não se compromete totalmente com nenhum dos gêneros, deixando ambos subdesenvolvidos. A classificação livre também limita a exploração do lado mais sombrio da história, o que poderia ter adicionado uma camada de complexidade à narrativa.

As performances dos atores são um dos pontos altos do filme. Benedict Cumberbatch continua a entregar uma interpretação convincente como Doutor Estranho, capturando a arrogância e a vulnerabilidade do personagem. Elizabeth Olsen se destaca como Wanda, trazendo uma intensidade emocional que, infelizmente, é subutilizada pelo roteiro. Xochitl Gomez como America Chavez é uma adição bem-vinda, embora seu personagem mereça um desenvolvimento mais robusto em futuros filmes.

Uma das maiores decepções do filme é a maneira como o conceito do multiverso é tratado. A expectativa gerada por Homem-Aranha: Sem Volta para Casa não é correspondida, e a exploração dos universos alternativos é superficial. O filme insinua um vasto potencial narrativo que nunca se concretiza, deixando a sensação de uma oportunidade perdida. Além disso, as esperadas participações especiais de personagens do universo Marvel são poucas e não conseguem surpreender, faltando o impacto que muitos fãs esperavam.

O filme também levanta questões sobre a relação entre os filmes e as séries do Disney+. Para compreender plenamente a trama de Doutor Estranho no Multiverso da Loucura, é quase obrigatório ter assistido WandaVision. Essa dependência de conteúdos auxiliares pode ser frustrante para espectadores que preferem se manter apenas nos filmes, criando uma barreira desnecessária.

Doutor Estranho no Multiverso da Loucura é um filme que certamente agradará os fãs mais dedicados da Marvel, que apreciarão as referências e os detalhes escondidos. No entanto, para o público geral, a falta de uma narrativa coesa e a dependência excessiva de efeitos visuais podem tornar a experiência cansativa. A promessa de uma exploração profunda do multiverso se perde em um emaranhado de subtramas e cenas de ação, deixando uma sensação de frustração.

Em última análise, o longa é um passeio visualmente estimulante, mas narrativamente insatisfatório. A Marvel terá que encontrar um equilíbrio melhor entre espetáculo e substância se quiser continuar a expandir seu universo cinematográfico de maneira significativa e envolvente.